Skip to main content

Os dez brotos de nossos Diálogos do Alimento no Fru.To

Os dez brotos de nossos Diálogos do Alimento no Fru.To

| Marcas falantes

Érica Araium

Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.

Érica Araium

Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.


Foi uma catarse tripla: idealizadores (Alex Atala e Felipe Ribenboim + Instituto ATÁ) e organização; plateias (houve a presencial e a virtual) e os 31 palestrantes deixaram o auditório da Unibes Cultural, em São Paulo, no último dia 27 de janeiro, motivados - ouviu-se muito falar em tesura, em motivação (ou motivo para ação) ao longo dos dois dias da primeira edição do Fru.To: Diálogos do Alimento. Os cases apresentados por gente bamba brasuca, israelita, holandesa, estadunidense, dinamarquesa e de muitos outros universos ("cada pessoa é um mundo") foram maneiros. Nesta reportagem, destacamos em textos, fotos e vídeos, que aos pouquinhos estarão em nosso canal no YouTube, um apanhado de #MotivosParaDialogarDez Brotos daqueles Diálogos do Alimento. Bom para quem perdeu as transmissões do Fru.To ou a cobertura que fizemos pelo Instagram, com uma forcinha do Stories. Fotos e artes: Érica Araium. Post checado em 02 de março de 2021.

Original title: The ten buds of our food dialogues in Fru.to
It was a triple catharsis: creators (Alex Atala and Felipe Ribenboim + Institute ATÁ) and organization; audience (there was the presential and the virtual one) and the 31 lecturers left Unibes Cultural auditorium, in São Paulo, on last January 27, motivated – there was a lot of talk about excitement, motivation (or motive for action) throughout the two days of the first edition of Fru.To: Food Dialogues. The cases presented by Brazilian, Israeli, Dutch, American, Danish, and experts from many other universes (“each person is a world”) were cool. In this news report, we highlight in texts, photos and videos, which, little by little, will be available on our YouTube channel, a collection of #ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar). Ten Buds of those Food Dialogues. Good for anyone who missed Fru.To broadcasts or the cover we made via Instagram, with a little help from Stories. Photos and arts: Érica Araium.  Translation: Maísa Urbano. Scroll down to read... Links: blue letteres, in portuguese version.

Depois desse compêndio, falta só arregaçar as mangas para dar-se continuidade ao proposto para a agenda do evento. As "10 sementes para serem plantadas e cultivadas por todos", redigidas pelo premiado jornalista ambiental Claudio Angelo", levam em conta a problemática, acentuada pelo desenvolvimento econômico insustentável e o mau uso dos recursos naturais; e os pontos de virada. Veja o resumo dos ais e porvires que Fru.To lançou e Diálogos Comestíveis quer muito ver brotar:

After this compendium, it is only necessary to roll up the sleeves to give continuity to what was proposed for the agenda of the event. The “10 seeds to be planted and cultivated by all”, written by the award-winning environmental journalist Claudio Angelo, take into account the problem, accentuated by unsustainable economic development and the misuse of natural resources; and the turning points. See the summary of the sighs and ideas about to become that Fru.To launched and Edible Dialogues really wants to see bud:
 

Os Dez Brotos dos Diálogos do Alimento, por Diálogos Comestíveis

FRU.TO
Food Dialogues
THE TEN SEEDS

Humanity is at a food crossroads;
The current production system is killing the planet;
The challenges are unprecedented and of multiple orders;
Climate change makes this picture even more dramatic;
The solutions are also multiple;
The food producer is an ally, not a villain;
Traditional populations will become increasingly important;
The oceans are the next frontier;
Local eating needs to be strengthened;
And it is also necessary to reconnect the urban population with the countryside and the forest.

Edible Dialogues
THE TEN BUDS

In local networks of affective co-producers
Empowered by knowledge, we like and share
We sow tomorrows in backyards
We revolutionize the green with the help of technology
We are nomads, agroforesters, not farmers
We cook to transform worlds and synapses
We map a sea good for the fish
To combat hunger and waste
We educate the taste of the little ones
In the battle for good news
#ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar)

 

As palestras, transmidas ao-vivo pelo canal da marca que acaba de nascer, no YouTube, geraram buzz interessante ao redor dos três eixos abarcados: social, biológico e cultural - reforço aos tripés do Slow Food e do Tripple Botton Line (TBL), como contamos na reportagem de apresentação. Não teve aquela de cozinheiro mexendo a caçarola e ensinando receita. Foi-se além. | The lectures, broadcasted live by the channel of the brand that has just been born, on YouTube, generated an interesting buzz around the three axes covered: social, biological and cultural – a reinforcement of the tripods of Slow Food and Tripple Bottom Line (TBL), as we told in the presentation news report. There was no such thing as a cook stirring the casserole and teaching recipes. It reached beyond.
 

"Pela primeira vez no mundo, um cozinheiro, promoveu um evento holístico. Multidisciplinar. Convidou as pessoas a pensarem em como alimentar o mundo e preservar a biodiversidade. Isso é genial", observou o fundador do movimento Slow Food, Carlo Petrini. | “For the first time in the world, a cook promoted a holistic event. Multidisciplinary. He invited people to think about how to feed the world and preserve biodiversity. That's ingenious”, the founder of the Slow Food movement, Carlo Petrini, noted.
 
 
Carlo Petrini, fundador do Slow Food, participou do Fru.to


Se foi a primeira vez de uma ágora como foi esta liderada por um cozinheiro: provável. Mas, não nos esqueçamos de outras iniciativas inspiradoras como o MAD, idealizado em 2011 por René Redzepi, do Noma (prestes a ser reinaugurado); e do Encontro Mundial de Chefs, relizado por Luiz Farias, pela primeira vez, em 2017, em Guararema (SP), para onde levamos a palestra Restos e Raspas, onde sustentabilidade e food styling caminharam juntinhos - vide o tartar de paleta bovina e vinagrete de talos de coentro e beterraba (sazonais) que desenvolvemos em parceria com o chef Juliano Albano. | If it was the first time of a reunion like that, led by a cook: probable. But let us not forget other inspiring initiatives such as MAD, conceived in 2011 by René Redzepi, from Noma (soon to be reopened); and the World Chefs Meeting, held by Luiz Farias, for the first time, in 2017, in Guararema (SP), to where we took the lecture Remains and Zest, where sustainability and food styling walked close together - sneak peek the blade steak tartar and cilantro and beet stems (seasonal) vinaigrette we developed in partnership with chef Juliano Albano.

Então. E... Na verdade, o Fru.To foi pautado por DOIS cozinheiros (Felipe Ribenboim é gastrônomo, antes de tudo, embora aja como produtor cultural, e dos porretas, internacionais, desde 2012, na Base7 Projetos Culturais, fzendo coisas realmente admiráveis, como a exposição "Alimentário – arte e construção do patrimônio alimentar brasileiro"). | 
So. And ... In fact, Fru.To was organized by TWO cooks (Felipe Ribenboim is a gastronomist, first and foremost, although he has acted as an international cultural producer, and a good one, since 2012, in Base7 Projetos Culturais, doing really admirable things, such as the exhibition “Alimentário – arte e construção do patrimônio alimentar brasileiro” (“Food - art and construction of the Brazilian food heritage”).
 

 

Felipe Ribenboim é gastrônomo, antes de tudo, embora aja como produtor cultural desde 2012
Felipe Ribenboim, gastrônomo e produtor cultural, semeia ideias no Fru.To | Felipe Ribenboim, gastronomist and cultural producer, sows ideas in Fru.to


Ah, mas que foi massa ver o sorrisão de Atala, bem em frente ao "papa". E também nos bastidores, na Fazenda da Toca, entre pares de todos as tribos e afetos. O faça você mesmo da punk de outrora, revigorado, virou o "façamos juntos pelo todo". Virou exemplo. De novo. | Oh, was it nice to see Atala’s big grin, right in front of the “pope”. And also, backstage, in the farm Fazenda da Toca, among pairs of all tribes and affections. The “do it yourself” from the punk of yesterday, refreshed, has turned to “let’s do it together for the whole”. It became an example. Again.


"Estamos num momento de reconexão com o ser humano. Vivemos a ditadura da internet, embora seja favorável à internet. O que nos falta é olhar mais um nos olhos dos outros e praticar o exercício da primeira virtude humana, que é o livre arbítrio, que é poder escolher. Também está clara a desconexão do homem com o alimento, que é a vida. Não me assusta que a maioria dos brasileiros não conheça 1% da nossa biodiversidade, das nossas frutas, que seja. O que e estarrece e faz mal é pensar quantas pessoas no mundo reconhecem um pé de laranja sem fruta. Reconectar o homem ao alimento e o homem ao homem é talvez o grande segredo de um amanhã melhor", ponderou Atala, olho no olho. | We are in a moment of reconnection with the human being. We live the dictatorship of the internet, although I am in favor of the internet. The things that we are short of are looking the others in the eye and practicing the exercise of the first human virtue, which is free will, which is being able to choose. It’s also clear the disconnection of man with food, which is life. It does not scare me that most Brazilians do not know 1% of our biodiversity, of our fruits, whatever. What terrifies and hurts is thinking of how many people in the world could recognize an orange tree with no oranges. Reconnecting man to food and man to man is perhaps the great secret of a better tomorrow”, Atala pondered, making eye contact.

 

Alex Atala, organizador do Fru.To:
Alex Atala, organizador do Fru.To: "Esse evento é de todos nós". | Alex Atala, organizer of Fru.To: “This event is ours”. 
 


Massa também foi ver o envolvimento de uma leva de atores da gastronomia, de produtores agrícolas a pesquisadores de peso, a representantes de governos e centros de tecnologia, a jovens cozinheiros, a estudantes: entre convidados in loco e interessados online. Cruzamos com um tantão de gente bacana da seara gastronômica. Laurent Suaudeau, Neide Rigo (Come-se), Bel Coelho (Clandestino), Rodrigo de Oliveira, Gabriela Monteleone (sommelier), Mara Salles (Tordesilhas), Kátia Barbosa, Priscila Sabará (FoodPass), Daniela Leite (Comida Invisível), Felipe Schaedler (Banzeiro), Paulo Machado (Instituto Paulo Machado)... | It was also nice to see the involvement of a lot of gastronomy actors, from agricultural producers to weighty researchers, to governments and technology centers representatives, to young cooks, to students: among guests on site and anyone interested online. We came across a bunch of nice people from the gastronomic sector. Laurent Suaudeau, Neide Rigo (Come-se), Bel Coelho (Clandestino), Rodrigo de Oliveira, Gabriela Monteleone (sommelier), Mara Salles (Tordesilhas), Kátia Barbosa, Priscila Sabará (FoodPass), Daniela Leite (Comida Invisível), Felipe Schaedler (Banzeiro), Paulo Machado (Instituto Paulo Machado)...

Mancada, teve? É. Faltou oportunidade para o público interagir on time, com os especialistas (um debate ao final dos módulos, com as perguntas enviadas previamente, resolveria a parada). Dica para 2019. Nada que comprometesse, porém. | Mistakes, were there? Yes. There was no opportunity for the public to interact with the experts in real time (a debate at the end of the segments, with the questions sent previously, would solve that matter). A tip for 2019. Nothing compromising, though.



Porque intervalos para os cafezinhos da manhã ou da tarde, houve prosa solta com a geral, tempo de firmar parcerias; passeio virtual (com uso de óculos para realidade ampliada) pela Floresta Amazônica (iniciativa do Instituto Socioambiental); prova, no paraíso, dos doces frutos da gastroperformance de Simone Mattar (repare na foto de abertura deste post); pitaco na playlist de Patrícia Palumbo na Rádio Vozes; bebericar água de filtro fresquinha. De ponta a ponta, o evento foi caprichoso nas menções entrelinhadas das tantas tradições brasileiras. Deu pra se sentir em casa. | Because there were enough morning and afternoon coffee breaks, and there was a lot of talk among everybody, time to establish partnerships; virtual tour (with the use of augmented reality glasses) through the Amazon Forest (initiative of the Instituto Socioambiental - Socio-environmental Institute); tasting time, in paradise, of the sweet fruits of Simone Mattar’s gastroperformance (notice the opening picture of this post); suggestions for Patrícia Palumbo’s playlist on Rádio Vozes; drinking fresh filtered water. All over the event there were thorough between the lines mentions of so many Brazilian traditions. It made you feel at home.

 

Intervalo do Fru.To: hora de por a prosa em dia
Intervalo do Fru.To: hora de por a prosa em dia | Break at Fru.To: time to do some catching up


A organização deve disponibilizar diversos conteúdos em breve. No site http://fru.to, o primeiro deles já está disponível - justamente o texto, na íntegra, das 10 sementes do fruto. Os vídeos das palestras estarão online a partir de fevereiro/2018. Nossos dez brotos - ou mais
#MotivosParaDialogar - abaixo, com #CadaConteúdoEmSeuLugar.  | The organization should make several contents available soon. At website http://fru.to, the first one of them is already available – precisely the text, in full, of the 10 seeds of the fruit. The videos of the lectures will be online starting February/2018. Our ten buds - or more #ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar) - below, with #EachContentInItsPlace (#CadaConteúdoEmSeuLugar).

 

NOSSOS DEZ BROTOS

OUR TEN BUDS

 

1- EM REDES LOCAIS DE COPRODUTORES AFETIVOS

1 – IN LOCAL NETWORKS OF AFFECTIVE CO-PRODUCERS


Petrini, é tão sincero quanto aguerrido. Ensina, há 30 anos, que, na batalha pelo alimento, o limpo dá condições ao bom. E que o justo depende da clareza sobre a origem, o caminho e o fim de cada insumo. Um cidadão respeitoso se dispõe, no mínimo, a compreender e a integrar a cadeia produtiva porque se preocupa com a biodiversidade e as próximas gerações. Daí a propor leis, a fiscalizá-las e a exigir soluções para as comunidades locais - que se vêem globais. Resumão da filosofia Slow Food? Boa. | 
Petrini is as sincere as he is tough. He has been teaching, for 30 years, that in the battle for food, clean gives conditions to good. And that fairness depends on the clarity about the origin, the path and the end of each raw material. A respectful citizen is willing, at least, to understand and integrate the productive chain because he is concerned with biodiversity and the next generations, and thus to propose laws, supervise them, and demand solutions for the local communities - which are seen as global. Summary of Slow Food philosophy? Good.


"Precisamos trabalhar pela mudança com alegria. E um gastrônomo que não é ambientalista, tampouco ecólologo, é tonto, é triste. E não pode mudar o mundo. Isso é promover a política: dar passos rumo à melhoria da comunidade", decretou. | 
“We need to work for changes with joy. And a gastronomist who is not an environmentalist, nor an ecologist, is foolish, is sad. And he cannot change the world. That is promoting politics: taking steps towards the improvement of the community”, he affirmed.

 
 
 
Carlo Petrini, idealizador do Slow Food

 


O italiano já havia passado pelo Chile e percorrido um trecho de Floresta Amazônica acreano antes de chegar à Terra da Garoa (lançou por lá o livro “A Arca do Gosto no Brasil. Alimentos, conhecimentos e histórias do patrimônio gastronômico”). Em Sampa, parecia p*.*.*o com a incoerente "gestão pública", em nível mundial. "Nunca houve tanta ausência política. Se ela já foi visionária, hoje não tem essa capacidade", afirmou, esquivando-se do verbete Trump. | 
The Italian had already been to Chile and gone through a stretch of the Amazon Forest in Acre before getting to the Land of Drizzle (where he launched the book “A Arca do Gosto no Brasil. Alimentos, conhecimentos e histórias do patrimônio gastronômico” – “The Ark of Taste in Brazil. Food, Knowledge and Stories of Gastronomic Heritage”). In Sampa (São Paulo), he seemed annoyed with the incoherent “public administration”, at world level. “There has never been so much political absence. If it has already been visionary, today it does not have that capability”, he said, dodging Trump’s remark.


Em seguida, foi taxativo ao questionar os monopólios das indústrias agrícolas e alimentícias - citou Monsanto, Nestlé etc; e parecia incoformado, ainda, com o desrespeito que houve com os queijeiros e cozinheiros brasileiros mais revolucionários. Caso de Roberta Sudbrack - em 2017, no Rock In Rio, ela viveu o disparate da tonelada de produto artesanal jogado fora por não ter o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Houve baita repercussão, debate público fomentado pelo  caderno Paladar (Estadão) e mais. "A fome voltou a aumentar no mundo. E que país é esse que joga queijo no lixo no Rio de Janeiro e dá ração ao pobre em São Paulo?", diz Petrini, referindo-se ao intento burros n'água do prefeito João Dória com sua farinata. | 
Then, he was resolute in questioning the monopolies of the agricultural and food industries – he mentioned Monsanto, Nestlé, etc.; and the disrespect that the most revolutionary Brazilian cheesemakers and cooks suffered was also inconceivable to him. Case of Roberta Sudbrack - in 2017, at Rock In Rio, she went through the nonsense of having a ton of the artisanal product thrown away for not having the seal of Serviço de Inspeção Federal (SIF - Federal Inspection Service). There was a great repercussion, a public debate encouraged by Paladar section (Estadão Newspaper) and more. “Hunger has increased in the world. And what type of country is this that throws cheese in the garbage can in Rio de Janeiro and gives dry food to the poor in São Paulo?”, Petrini says, referring to the unsuccessful intent of the mayor João Dória with his farinata (floury food).


Depois de expurgar o incorformismo e ser ovacionado, o italiano reforçou o afeto. Tanto nos abraços longos e sorriso fácil quanto no apelo por uma sociedade de coprodutores (e não meros consumidores conscientes) destinados a agir em prol de suas comunidades. "É preciso firmar uma aliança entre comunidades de destino. Antes de comprar orgânicos, comprar localmente, fortalecer as pessoas do entorno, de afeto", defende. | 
After exposing his nonconformity and being applauded, the Italian reinforced affection. In the long hugs and easy smiles as well as in the call for a society of co-producers (and not mere conscious consumers) destined to act on behalf of their communities. “It is necessary to form an alliance among target communities. Before buying organic products, buy locally, strengthen the people around you, people of affection”, he defends.

 

2-EMPODERADOS PELO CONHECIMENTO, DAMOS LIKE E SHARE

2-EMPOWERED BY KNOWLEDGE, WE LIKE AND SHARE

 

Sabe aquele episódio do Rock In Rio? Então. Conhece a RDC 49/2013, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)? Que inspirou as normatizações do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que define, basicamente, como devem ser regularizados os produtos artesanais? | You know that episode of Rock In Rio? So. Do you know RDC 49/2013 of Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária - National Health Surveillance Agency)? That inspired the regulations of MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Ministry of Agriculture, Livestock and Supply), which basically defines how handmade products should be regulated?


Rose Mendes está por trás da salvaguarda do alimento brasileiro sem fronteiras. Uma das atribuições desta baiana, pedagoga, mulher porreta foi "a articulação e a coordenação do Projeto Inclusão Produtiva com Segurança Sanitária", que resultou na "proposição da Resolução da Diretoria Colegiada - RDC 49/2013, que dispõe sobre a regularização para o exercício de atividade de interesse sanitário do microempreendedor individual, do empreendimento familiar rural e do empreendimento econômico solidário, primeira norma da Agência orientada para o tratamento justo e favorável aos pequenos negócios". | 
Rose Mendes is behind the safeguarding of Brazilian food without frontiers. One of the assignments of this amazing Bahian pedagogue was “the articulation and coordination of the Project Productive Inclusion with Sanitary Security”, which resulted in the “proposal of the Resolução da Diretoria Colegiada (Resolution of the Collegiate Board of Directors) - RDC 49/2013, which regulates the practice of activities of sanitary interest of individual micro-entrepreneurs, rural family businesses and solidarity economy enterprises, the first rule of the Agency guided towards a fair and favorable treatment to small businesses”.


Durante a palestra, cutucou a autoestima de um país, que não raro, fecha os olhos às crianças em lugares onde a comida visível, lançada nos contratos das gestões públicas, ao menos, se torna misteriosamente "indisponível". Aquela merenda desviada, por vezes, seria a única alimentação do brasileirinho que saiu de casa à pé, de uma lonjura, para ter aula. Isso ratifica o absurdo. O direito humano à alimentação adequada passou a ser contemplado no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. No Brasil, graças à mobilização  mobilização da sociedade civil,  somente em 2010 foi aprovada a Emenda Constitucional nº 64, que inclui a alimentação no artigo 6º da Constituição Federal. Na prática, direito violado. |
 During the lecture, she punctured the self-esteem of a country, which often closes its eyes to children in places where visible food, launched in public service contracts, mysteriously becomes “unavailable”. That school lunch which was embezzled would sometimes be the only food of the Brazilian kid who left home on foot, from a long distance, to have class. This ratifies the absurd. The human right to adequate food was addressed in the article 25 of the Universal Declaration of Human Rights of 1948. In Brazil, thanks to the mobilization of civil society, only in 2010 the Constitutional Amendment No. 64 was approved, which includes food in the 6th article of Brazilian Federal Constitution. In practice, a right violation.
 

Rose Mendes, pedagoga:
Rose Mendes, pedagoga: "A sociedade civil precisa conhecer melhor as leis para que não ocorram tantos desmandos" | 

Rose Mendes, pedagogue: “Civil society needs to be better acquainted with the laws in order to avoid abuse of power”


Pois o que a RDC 49/2013 defende é a diferenciação dos empreendedores e a máxima da razoabilidade. Um pequenino produtor (do que quer que seja) não pode (e nem merece, por razões óbvias de iviabilidade de custos de produção) seguir exatamente as mesmas regras que deve cumprir um meganegócio agro. | 
For what DRC 49/2013 stands for is the differentiation of entrepreneurs and the maximum reasonableness. A small producer (of whatever product) cannot (and does not deserve, for obvious reasons of production cost impracticability) follow exactly the same rules that a major agribusiness must.

Sim. Isso é empoderamento. Rose partilha que já perdeu as contas de quantas brigas comprou enquanto atuava na Anvisa -  ora à frente da Gerência de Fortalecimento do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, ora como assessora da Diretoria de Coordenação e Articulação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. | 
Yes. That is empowerment. Rose shares that she has already lost count of how many fights she had to while working at Anvisa – whether she was ahead of the National Health Surveillance System Strengthening Office, or as an assessor of the Coordination and Articulation Board of the National Health Surveillance System.


Hoje, desempregada, presta consultorias diversas a quem quiser mudar contextos sociais - a mais recente, e ainda não concluída, foi ao governo de Cabo Verde, um país cuja população se equipara à da cidade de São Carlos (SP), da qual já foi vice-prefeita, e onde as dificuldades de moradia e idiossincrasias tantas são próximas àquelas da população do Norte e Nordeste brasileiros, território que Rose conhece extremamente bem. Ela nunca foi do tipo burocrata. E sente falta da repercussão de pautas mais abrangentes, pertinentes, modificadoras de contexto. De debate. | 
Today, unemployed, she offers diverse consultancies to those who want to change social contexts - the most recent, and not yet concluded one, was to the government of the Republic of Cabo Verde, a country whose population is similar in number to that of the city of São Carlos (SP), city of which she has a already been the vice mayor, and where the difficulties of housing and idiosyncrasies are close to those of the population from the north and northeast of Brazil, a territory that Rose knows extremely well. She was never the bureaucrat type. And she misses the repercussion of broader, more relevant, context-changing agendas. Debates.


"Há mídias e mídias. Às que tive acesso foram de pessoas comprometidas com o movimento, coma inovação da legislação, com os trabalhadores, tanto os da agricultura familiar quanto da economia solidária. A grade mídia só acompanha quando acontece um fato em que a Vigilância Sanitária interdita, um momento de desgraça, como foi no Rio de Janeiro. Mas não aparecem as coisas boas que a mídia fez. Ao mesmo tempo em que a sociedade não gosta da Anvisa porque só conhece as coisas ruins que ela faz. É como digo. A RDC 49/ 2013 é algo bom que a agência fez. É uma norma voltada para a agricultura familiar, parao MEI e para a economia solidária. Até 2011, essas eram palavras desconhecidas para a Anvisa. E isso não foi divulgado. Rodamos o país todo divulgando isso. A sociedade civil precisa conhecer melhor as leis para que não ocorram tantos desmandos. Tantos atos errôneos de fiscais da vigilância sanitária. Tantos desmandos", expõe Rose, no início da entrevista que concedeu a Diálogos Comestíveis.  | 
“There are different kinds of media. The ones I had access to were formed by people committed to the movement, to innovation in legislation, to the workers, both family farming and solidarity economy. The mass media only covers it when there is a Health Surveillance Agency interdiction, a moment of disgrace, like it was in Rio de Janeiro. But the good things are not broadcasted. The society does not like Anvisa because it only knows the bad things it does. It’s as I say. The RDC 49/2013 is something good that the agency has done. It is a rule focused on family agriculture, on individual micro-entrepreneurs and on the solidarity economy. These words were unknown to Anvisa until 2011. And this was not broadcasted. We crossed the whole country communicating it. Civil society needs to be better acquainted with the laws in order to avoid abuse of power. So many health inspectors’ incorrect acts. So many excesses”, explains Rose, at the beginning of the interview she gave to Edible Dialogues.


Ora, em síntese, a mídia precisa acompanhar melhor os atores de mudanças na lógica da alimentação interna (legislação nacional) a fim de empoderar seus coprodutores. Há tantas leis que já existem e são insabidas e outras que são fiscalizadas à mercê da síndrome do pequeno poder, por vezes. | 
Well, in short, the media needs to follow more efficiently the actors of changes in the logic of internal food (national legislation) in order to empower its co-producers. There are so many laws that already exist and are unknown and others that are inspected at the mercy of the small power syndrome, at times.
 

Rose Mendes, em palestra no Fru.To, defende comida como cultura


Para Rose, comida, sim, é cultura. E, quando sabemos do que pode modificar nosso entorno, rapidamente partilhamos as boas novas, damos "like e share". "Temos de conhecer as leis e nos apropriar delas, fomentá-las e propor o que queremos de fato", resume ela. "Sou uma baiana que estou no mundo para contribuir com uma sociedade melhor, mais humana, com mais amor e fraternidade". Tanto a pedagoga quanto Bela Gil quanto a ONU (veja os tópicos 9 e 10 com mais atenção) apostam na educação alimentar infantil para a mudança de paradigmas. Algo que vimos defendendo e testemunhando também. | To Rose, yes, food is culture. And when we know what can change our environment, we quickly share the good news, we “like and share”. “We have to know the laws and take ownership of them, foster them and propose what we really want”, she summarizes. “I am a Bahian who is in the world to contribute to a better, more humane society, with more love and fraternity”. Both the pedagogue and Bela Gil, as well as the UN (see topics 9 and 10 with special attention) bet on child nutrition education to change paradigms. Something that we have been defending and witnessing as well.


Lúcio Brusch, físico, pesquisador da Fundação Zeri, também foi porreta no despertar dos ais: nossos pesquisadores, sobretudo quando unidos, têm feito descobertas bacanas pela ciência e, de quebra, pela antropologia e pela cultura. Na maioria das vezes, contudo, boa parte do que é revelado não é sabido - tampouco incentivado. Se há iniciativa privada a dar bom caldo, meia dúzia de projetos deslancha. | Lucius Brusch, a physicist and researcher at Zeri Foundation, was also great in inspiring with awe: our researchers, especially when united, have made cool discoveries for science and, in addition, for anthropology and for culture. Most of the time, however, much of what is revealed is not known - nor encouraged. If there is private initiative to support it, half a dozen projects take off.

 

Lúcio Brusch, físico, pesquisador da Fundação Zeri
Lúcio Brusch, físico, pesquisador da Fundação Zeri | Lúcio Brusch, physicist, researcher at Zeri Foundation

"No Zeri, defendemos o caráter democrático do aprendiezado e contamos com especialistas pesquisadores e apoiadores da educação infantil. "A cultura se alimenta de cultura", lembrou ele. | 
“In Zeri, we defend the democratic character of learning and we rely on specialist researchers and supporters of early childhood education. Culture feeds on culture”, he recalled.
 


Prosseguimos. Alimento não é comida, é commoditie, sobretudo à medida em que nos distanciamos dele (ou vai dizer que você olhou nos olhos do produtor de suas batatas doces e queijos, hoje?). Cultura é comida (cheia de significados, de pertença, de pés de galinha e de marcas do tempo, de histórias). E cultura come cultura. |
 Let us continue. Food is not meal, it’s commodity, especially as we distance ourselves from it (or will you say you looked into the eyes of the producer of your sweet potatoes and cheese today?). Culture is food (full of meanings, belongings, wrinkles and time marks, of stories). And culture eats culture.

 

3-SEMEAMOS AMANHÃS NOS QUINTAIS
 

3-WE SOW TOMORROWS IN THE BACKYARDS


Dois caras supimpa fizeram morada em nosso coração. O primeiro, paixão antiga, Ron Finley, já faz certo sucesso, há tempos, no mundo - muita gente já sabe que ele é o jardineiro fiel das urbes, talvez via TED Talk, até. Assita ao Gagsta Gardener e saia certo de que cultivar a sua pópria comida é uma boa solução em quaisquer circunstâncias. Dê um Google. Entenda o que o verbete significa. |  
Two cool guys have made their home in our hearts. The first one, an old passion, Ron Finley, has already made certain success, for a long time, in the world - many people already know that he is the faithful gardener of the cities, perhaps even via TED Talk. Watch Gangsta Gardener and be sure that growing your own food is a good solution under any circumstances. Check it on Google. Understand what the entry means.

No Fru.To não seria diferente. Ele virou "o cara", fez todo mundo relaxar com a meditação "vocalizativa" (-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!) do útimo dia de paletras e, humildemente, dividiu conhecimento minuto a minuto com quem se aproximou dele. | In Fru.To it would not be different. He became “the guy”, made everyone relax with the “vocalizative” meditation (-Aaaaaaaaaaaaaaaaah!) on the last day of lectures and, humbly, shared knowledge minute by minute with those who approached him.

Ron Finley, o Gagsta Gardener de L.A.
Ron Finley, o Gagsta Gardener de L.A. | Ron Finley, The Gangsta Gardener from LA



Ron modifica a zona centro-sul de Los Angeles há anos por pura rebeldia. Planta "o que for possível" em terrenos baldios, canteiros de rua, meios-fios. Por diversão, por rebeldia, pela beleza, e para oferecer alguma alternativa ao fast food em uma comunidade em que "os drive-thrus estão matando mais pessoas que a violência", como ele define. | 
Ron has modified the center-south zone of Los Angeles for years just for sheer rebellion. He plants “whatever is possible” in vacant lots, flower beds, curbs. For fun, for rebellion, for beauty, and to offer some alternative to fast food in a community where “drive-thrus are killing more people than violence”, as he defines it.


Para ele, jardinagem é como grafite, é arte. E ele cultiva a própria arte a fim de dissipa-la às próximas gerações. Ora, se ele tem expandido os diminutos cinturões verdes em L.A. e ensnado as crianças a fazer o mesmo, absolutely respect. "Para mudar a comunidade , você precisa mudar a composição do solo", afirma. Releia a proposta de Petrini e veja se o gangsta não surpreende? Onde havia obesidade e drive-through’s de sobra, sobram hoje voluntários, de todas as idades, multiplicando jardins coletivos e comestíveis. Ron semeia respeito. |
 For him, gardening is like graffiti, it is art. And he cultivates his own art in order to dissipate it to the next generations. Well, if he has expanded the tiny green belts in LA and taught the children to do the same, I absolutely respect it. “In order to change the community, you need to change the composition of the soil”, he says. Reread Petrini’s proposal and see how surprising gangsta is. Where there were lots of both obesity and drive-throughs, today there are lots of volunteers of all ages multiplying collective edible gardens. Ron sows respect.

"Crianças dançando com vegetais me deixam feliz", diz Ron Finley. | 

“Children dancing with vegetables make me happy”, Ron Finley says.

 

Ron Finley, na Escola da Toca, Fazenda da Toca (SP)
Ron Finley, na Escola da Toca, Fazenda da Toca (SP) | Ron Finley, at school Escola da Toca, in the farm Fazenda da Toca (SP) 


Há tempos, ele cria uma rede de afetividade tão bonita quanto, mais recentemente, Ricardo Cardim, com suas Floresta(s) de Bolso. "Técnica mais natural de restauração da Mata Atlântica. Sua composição e espaçamento procuram respeitar a dinâmica original das florestas, o que proporciona um crescimento mais rápido, menor índice de perdas, baixo consumo de água e menos manutenção". | For a long time, he has created an affectivity network as beautiful as, more recently, Ricardo Cardim, with his Floresta(s) de Bolso (Pocket Forests). “A more natural restoration technique of the Atlantic Forest. Its composition and spacing aim at respecting the original dynamics of the forests, which provides faster growth, lower losses, lower water consumption and less maintenance”.

No Fru.to, Ricardo partilhou como foi a criação do Lago das Araucárias e disse das pretensões para consolidar o Parque Villa Lobos Cândido Portinari. Esse floresteiro urbano vai atrás do patrocínio para as empreitadas de seus projetos e conta com a sociedade para concretizá-los - conclama, com ajuda das redes sociais, multirões de plantio. | 
In Fru.to, Ricardo shared how the creation of Lago das Araucárias (Araucarias Lake) was and talked about the pretensions to consolidate Parque Villa Lobos Cândido Portinari (Villa Lobos Cândido Portinari Park). This urban forestry guy goes after the sponsorship for the endeavor of his projects and counts on the society to make them happen – he calls, with the help of social networks, collective planting groups.
 

"O mato é nosso ativo. Imagine que privilégio poder recuperar com, as Florestas de Bolso, as sombras, as paisagens e as frutas características de um local centenário"? | “The bush is our asset. Imagine what a privilege to be able to recover, with Pocket Forests, the characteristic shades, landscapes and fruit of a centennial place?”

 

Ricardo cardim, do projeto Floresta de Bolso

 

Os objetivos dele são reconectar a população ao patrimônio nativo, suas formas, texturas, história e sabores, resgatando a biodiversidade original no cotidiano. Na Unibes Cultural, três ambientes estavam florestados com a proposta. O palco, inclusive. Com os pinheiros - araucárias - de Pinheiros. | His goals are to reconnect the population to the native heritage, its forms, textures, history and flavors, redeeming the original biodiversity in daily life. At Unibes Cultural, three environments were forested with the proposal. Including the stage. With the pine trees - araucarias - from Pinheiros.


Parênteses providencial. Antes de me enveredar pela comunicação social - jornalismo, jornalismo literário, marketing e branding; e, agora, pelo mestrado em divulgação cultural e científica - já achava vantagem em comer PANC, em plantar em qualquer canto e em dissipar a ideia de salvaguardar o amanhã nos pequenos espaços. Moro em um apê diminuto, mas com espaço mais que suficiente para o verde, para a horta, para o cheiroso alecrim. | 
Providential parentheses. Before going into social media - journalism, literary journalism, marketing and branding; and, now, for my master’s degree in cultural and scientific dissemination - I already found eating NCEP (non-conventional edible plants - a free translation of PANC – plantas alimentícias não convencionais) beneficial, as well as planting them in any corner and spreading the idea of safeguarding tomorrow in small spaces. I live in a diminutive apartment, but with more than enough space for the green, for the vegetable garden, for the pleasant smelling rosemary.

Dá para ser hortelão, basta querer. | Anyone can be a gardener, if they want to.

 

4-REVOLUCIONAMOS O VERDE COM AJUDA DA TECNOLOGIA

4-WE REVOLUTIONIZE THE GREEN WITH THE HELP OF TECHNOLOGY 


Não há dúvidas de que vivenciamos outra Revolução Verde, no centro de outra Revolução Industrial, cercados de inteligências artificiais.B lack Mirror, para quem acompanha esse raciocínio, não é uma série futurista, mas um bom documentário vanguardista. | 
There is no doubt that we experience another Green Revolution, in the center of another Industrial Revolution, surrounded by artificial intelligences. Black Mirror, for those who follow this reasoning, is not a futuristic series, but a good avant-garde documentary.


Cozinhar nos deixou mais humanos, em vantagem em neurônios e em evolução cognitiva, como demonstrou a neurocientista Suzana Herculano-Houzel. Agora, ela deve estar analisando  córtexes diversos, dissolvendo-os em detergente (e tudo bem, pela ciência) a fim de extrair bom suco, em seu laboratório, para contar, precisamente, de quantos neurônios certos bichos são feitos e quão poderosos são. Nós, Homo sapiens, temos 86 bilhões de neurônios em nosso cérebro. Descoberta dela. | 
Cooking has made us more human, in advantage in neurons and in cognitive evolution, as neuroscientist Suzana Herculano-Houzel has demonstrated. Now, she must be analyzing various cortexes, dissolving them in detergent (and it’s all right, for science) in order to extract good juice, in her laboratory, to count, precisely, out of how many neurons certain animals are made and how powerful they are. We, Homo sapiens, have 86 billion neurons in our brain. Her discovery.

Autora de “A Vantagem Humana: Como Nosso Cérebro se Tornou Superpoderoso” (Cia. das Letras, 2017), que lembra, grosso modo, a toada de "Pegando Fogo: Como Cozinhar nos Tornou Humanos", de Richard Wrangham, editora Zahar. | Author of “A Vantagem Humana: Como Nosso Cérebro se Tornou Poderoso” (The Human Advantage: How Our Brain Has Became Superpowerful), Cia. Das Letras, 2017, roughly reminiscent of “Pegando Fogo: Como Cozinhar nos Tornou Humanos” (Catching Fire: How Cooking Has Made Us Human), by Richard Wrangham, publishing house editora Zahar. 


Se gastamos menos tempo caçando e comendo, graças à evolução em relação aos demais primatas, temos vantagem competitiva. "Assim, podemos pensar mais", destaca. Noutras palavras, quanto mais cozinhamos, mais temos tempo de sobra para matutar acerca de novas tecnologias, que, se bem empregadas, podem salvar o futuro. |
 If we spend less time hunting and eating, thanks to evolution compared to other primates, we have a competitive advantage. “So we can think more”, she highlights. In other words, the more we cook, the more spare time we have to think about new technologies that, if well employed, can save the future.

 

Suzana Herculano-Houzel, uma das principais neurocientistas  do mundo é brasileira, mas vive nos Estados Unidos: falta de incentivo à P&D
Suzana Herculano-Houzel, uma das principais neurocientistas do mundo é brasileira, mas vive nos Estados Unidos: falta de incentivo à P&D | Suzana Herculano-Houzel, one of the main neuroscientists of the world is Brazilian, but she lives in the United States: R&D incentive shortage 


Pena que, ao menos em relação à ciência, e apesar de termos tantos neurônios na cachola, desperdicemos inteligência - nossos melhores estão indo embora. Vale ressaltar que Suzana, que é um dos cérebros brasileiros mais brilhantes, decidiu deixar o país porque não havia (e não há, convenhamos) incentivos para cientistas por aqui. | 
It’s a pity that, at least relative to science, and in spite of having so many neurons in the brain, we waste intelligence - our best are leaving. It is noteworthy that Suzana, who is one of the most brilliant Brazilian brains, decided to leave the country because there were not (and there aren’t, let’s face it) incentives for scientists here.


Ela, bióloga que já esteve ligada a Universidade Federal do Rio de Janeiro, e o físico Bruno Mota, publicaram, em 2015, um artigo que explicava as dobras do córtex, na prestigiada revista Science, o máximo meio acadêmico/ científico (isso siginifica algo como ganhar o Oscar para um ator ou as três estrelas Michelin para um chef). Naquele momento, a despeito do reconhecimento, Suzana deixou o Brasil e foi viver nos Estados Unidos. | 
She, a biologist who has already been connected to the Federal University of Rio de Janeiro, and the physicist Bruno Mota, published, in 2015, an article explaining the folds of the cortex in the prestigious Science Magazine, the top academic/scientific journal (this means something like winning the Oscar for an actor or the three Michelin stars for a chef). At that moment, despite the recognition, Suzana left Brazil and went to live in the United States.


Em 2014, a crise já havia pegado a nossa ciência em cheio. Houve dois golpes importantes: corte de 25% no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia (ajuste fiscal) e queda de 28% nos repasses ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), fonte importante de recursos. Segundo dados  disponíveis no portal do CNPq, o auxílio à pesquisa caiu de R$ 631,6 milhões em 2014 para R$ 2 milhões em 2016. Os recursos para bolsas no exterior passaram de R$ 808,1 milhões em 2014 para R$ 13,6 milhões em 2016. Não foram "cortes" até 2017. Foram extinções? 
O que havemos de fazer para melhorar a alimentação do futuro e salvar a espécie humana e a biodiversidade nesse caos? | By 2014, the crisis had already struck our science. There were two important strokes: a cut of 25% in the budget of the Ministry of Science and Technology (fiscal adjustment) and a 28% decrease in the financial funding to Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT - National Fund for Scientific and Technological Development), an important means of resources. According to data available on CNPq web portal, research aid fell from R$ 631.6 million in 2014 to R$ 2 million in 2016. Resources for overseas grants dropped from R$ 808.1 million in 2014 to R$ 13.6 million in 2016. They were not “cuts” until 2017. Were they extinctions? What do we have to do to improve the nutrition of the future and save the human species and biodiversity in this chaos?

Aliar esforços.  Exatamente o que destacou a holandesa Ria Hulsman, da Universidade Wageningen (UW), Gerente de Cooperação Internacional com a América Latina para a UW e apoiadora dos cientistas na construção e sustentação de relacionamentos com diversos parceiros internacionais. | Joining forces. This was exactly what Dutch Ria Hulsman, from the University of Wageningen (UW), the International Cooperation for Latin America Manager for UW and a supporter of the scientists in the construction and support of relationships with several international partners, highlighted.
 

"Precisamos observar quais são os caminhos à otimização da alimentação mundial. Em 2050, poderemos ter um mundo sem fome, com alimento nutritivo suficiente, se entendermos que a tecnologia é aliada do homem", assenta. | “We need to look at ways to optimize the world’s food supply. By 2050, we can have a world without hunger, with enough nutritious food, if we understand that technology is man’s ally”, she says.
 
a holandesa Ria Hulsman, da Universidade Wageningen (UW), Gerente de Cooperação Internacional com a América Latina para a UW
Ria Hulsman, da Universidade Wageningen (UW), na Holanda, expert em agroflorestas e Gerente de Cooperação Internacional com a América Latina para a UW | Ria Hulsman, from University of Wageningen (UW), in the Netherlands, expert in agroforestry and International Cooperation for Latin America Manager for UW 


 

E se pudéssemos otimizar a fotossíntese, produzindo o dobro? E se houvesse otimização dos espaços mais inóspitos com a agricultura vertical? E se, simplesmente, enriquecessemos os solos mais pobres do mundo onde, em breve, haverá explosão populacional, como a África? E se, na África, onde há solos pobres, fosse possível recuperar o nitrogênio, recuperar o balanço hídrico e restaurar microclimas e faixas verdes? Veja o exemplo do justdiggit.org e pondere. 
A ciência é aliada. Ponto. Sinal verde? | 
What if we could optimize photosynthesis, producing twice as much? What if there were optimization of the more inhospitable spaces with vertical agriculture? What if we simply enriched the poorest soil in the world where, soon, there will be a population explosion, like Africa? What if, in Africa, where there are poor soils, it were possible to recover nitrogen, restore water balance and restore microclimates and green stripes? See justdiggit.org example and ponder. Science is an ally. Period. Green light?
 

5-SOMOS NÔMADES, AGROFLORESTEIROS, NÃO AGRICULTORES

5-WE ARE NOMADS, AGROFORESTERS, NON-FARMERS

O suíço Ernest Götsch é o papa da agricultura sintrópica. A agrofloresta e a permacultura, parte de um projeto de extremo respeito à natureza e à diálética da biodiversidade. Se determinadas espécies desaparecem e se, mais tarde, ressurgem, evoluídas, repare. |
 The swiss Ernest Götsch is the pope of the syntropic agriculture. The agroforestry and the permaculture, part of a project of extreme respect to nature and to the biodiversity dialectic. If certain species disappear and if, later, they rise back, evolved, take notice.

No Fru.To, tal Petrini, ele representou o papel da sumidade. Não ha como deixar-se de curvar a alguém que conhece as plantas pela fisiologia. "Desde a década de 1970, não uso agrotóxicos, não tiro as plantas de seus locais. Deixo-as prosperarem para otimizar os processos de vida. E disso depende um amor incondicional", define. | In Fru.To, such as Petrini, he played the role of the genius. There is no way not to bow down to someone who knows plants by their physiology. “Since the 1970s, I do not use agrochemicals, I do not take the plants out from their places. I let them thrive to optimize life processes. And that depends on unconditional love”, he defines.


"Fazemos parte de um grande ecossistema. Cada indivíduo nasce equipado para se comunicar com os demais. As coisas não são para se fazer, são feitas por uma lógica natural. É preciso deixar o cronos, o tempo falar e é preciso respeitar a lógica energética. Não é possível mais que gastemos 1,2 mil vezes energia para produzir um pãozinho francês que aquele número de calorias apontado na embalagem do mesmo produto. Isso é uma afronta. O predador inteligente caça com olhar atento à capacidade de a presa equilibrar o meio ambiente", defende. |
 “We are part of a great ecosystem. Each individual is born equipped to communicate with the others. Things are not meant to be done, they are made by a natural logic. We must let chronos, the time talk and energetic logic is to be respected. It is not possible that we spend 1,200 times more energy to produce a French loaf than that number of calories written in the packaging of the same product. This is an affront. The intelligent predator hunts with watchful attention to the ability of the prey to balance the environment”, he defends.
 
 
 
O suíço Ernest Götsch é o papa da agricultura sintrópica

 

Exemplo de agrofloresta, esta já em bom desenvolvimento, na Fazenda da Toca (Itirapina/SP)
Exemplo de agrofloresta, esta já em bom desenvolvimento, na Fazenda da Toca (Itirapina/SP) | Example of agroforestry, this one is already in good shape, in the farm Fazenda da Toca (Itirapina/SP)



Tanto Ernest, defensor dos SIF's (sistemas agroflorestais) quanto a pesquisadora e expert Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga e referência no estudo das interações dos povos indígenas com o meio-ambiente e autora de diversos livros (entre eles, "Cultura com Aspas", "Negros, Estrangeiros" e "Os Mortos e os Outros"; além de organizadora de obras famosas como "História dos Índios no Brasil" e "Enciclopédia da Floresta")... sabem que "a vida das plantas é uma grande corrida armamentista contra todos os tipos de pragas e insetos", definição da antropóloga. | 
Both Ernest, advocate of agroforestry systems, and the researcher and expert Manuela Carneiro da Cunha, an anthropologist and a reference in the study of the interactions of indigenous peoples with the environment and author of several books (among them, “Cultura com Aspas” - Culture with Quotation Marks, “Negros, Estrangeiros” - Blacks, Foreigners, and “Os Mortos e os Outros” - The Dead and the Others); besides being the organizer of famous works like “História dos Índios no Brasil” (History of Indigenous Peoples in Brazil)” and “Enciclopédia da Floresta” (Encyclopedia of the Forest)... know that “plants lives are a great armed race against all kinds of pests and insects”, the anthropologist’s definition.


Daí a cientista ponderar o fato de os Bancos de Germoplasma, "unidades conservadoras de material genético de uso imediato ou com potencial de uso futuro",  garantirem coisa alguma. Ora, se o clima e os seres humanos alteram as interações com os seres vivos que, paulatinamente, ganham mais resistência a determinados invasores/ pesticidas/ agrotóxicos/ insetos etc ao longo do tempo, como apostar numa semente adormecida há séculos para dar conta de resolver a fome no futuro? | 
Hence the scientist pondering the fact that Germplasm Banks, “conservative units of genetic material of immediate use or with potential for future use”, guarantee nothing. Now, if climate and humans change interactions with living beings that, gradually, gain more resistance to certain invaders/pesticides/insects etc. over time, how to bet on a seed that remained dormant for centuries to solve hunger in the future?

A professora emérita do Departamento de Antropologia da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos; e professora aposentada da Universidade de São Paulo (USP) destacou, na palestra proferida no Fru.To, ao lado de Jerônimo Villas Boas, ecólogo especialista na cadeia de produtos da sociodiversidade, a lógica indígena - são as tribos/ etnias as reposnsáveis pela manutenção da biodiversidade. |
The emeritus professor at the Department of Anthropology at the University of Chicago, in the United States; and retired professor at the University of São Paulo (USP) highlighted, in the lecture given in Fru.To, alongside Jerônimo Villas Boas, an ecologist specialized in the sociodiversity products chain, the indigenous logic - the tribes/ethnic groups are responsible for the maintenance of biodiversity.

 

Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga defensora do papel das comunidades indígenas na preservação da biodiversidade
Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga defensora do papel das comunidades indígenas na preservação da biodiversidade. | Manuela Carneiro da Cunha, anthropologist and advocate of the role of indigenous communities in biodiversity preservation


No Alto Rio Negro (AM), homens e mulheres não falam a mesma língua. Contudo, não é raro que um homem, quando sai de sua aldeia, receber, de presente, uma muda (estaca) de mandioca de sua mãe/ família.
"Como é possível que clones resultem em tantas variedades da planta? De maneira geral, os povos indígenas são nômades, não agrcultores. Responsáveis pela dispersão de espécies, pela preservação da biodiversidade", pondera a antropóloga. Como nós deveríamos ser. "A conservação in situ de variedades de plantas pode e deve ser feita pelas populações tradicionais", salienta. | In Alto Rio Negro (AM), men and women do not speak the same language. However, it is not unusual for a man, when leaving his village, to receive, as a present, a cassava cutting from his mother/family. “How can clones result in so many plant varieties? In general, indigenous peoples are nomads, not farmers. Responsible for the dispersal of species, for the biodiversity preservation”, the anthropologist ponders. As we should be. “In situ conservation of plant varieties can and should be done by traditional populations”, she points out.

Houve sim quem trouxe números sobre as agriculturas locais e mundiais... sobre os negócios no setor. Bacana saber que temos acordadas metas para a redução de CO2 até 2030. "Para isso, o País pretende também zerar o desmatamento na Amazônia Legal e restaurar 12 milhões de hectares de florestas", defende o goveno federal. Contudo, reafirmar compromissos e mostrar números não revela ações. Sentimos falta de histórias de vida transformadas. De exemplos. | Yes, there were those who brought numbers about local and global agriculture... about businesses in the sector. Good to know that we have agreed targets for the reduction of CO2 by 2030. “In order to do that, the country also intends to clear deforestation in Legal Amazon and restore 12 million hectares of forests”, federal government defends. However, reaffirming commitments and showing numbers do not reveal actions. We missed stories about transformed lives. Examples.

Faltou esclarecer o que será feito em prol (em prol) da agricultura familiar (70% dos alimentos que vão à mesa dos brasileiros é fruto do esforço diuturno dela) até 2030 e não exatamente do desevolvimento do agronegócio, centro da palestra do ex-ministro da agricultura e atual Coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues. | 
What will be done in favor of family agriculture (70% of the food that goes to the table of Brazilians are the result of its lasting effort) until 2030 lacked clarification and not exactly the agribusiness development, center of the lecture of ex-minister of Agriculture and current Coordinator of the Center of  Agribusiness of the Getúlio Vargas Foundation, Roberto Rodrigues.

Entre outros dados (e foram muitos), inclusive sobre o compromisso ousadíssimo assumido pelo Brasil na 21ª Conferência das Partes (COP21), em 2015, de, até 2030, adicionar a participação de 18% de biocombustíveis na matriz energética, aumentar de 10% para 23% o uso de energias renováveis (solar, eólica e biomassa) na matriz elétrica. Meta: cortar 43% da emissão de gases poluentes até 2030. Fato: lá em 2030, vulgo depois de amanhã, teríamos de produzir 50 bilhões de litros de etanol carburante, segundo o governo. | 
Among other data (and there was a lot), including Brazil’s daring commitment made at the 21st Conference of the Parties (COP21), in 2015, of, by 2030, adding the participation of 18% of biofuels in the energy matrix, increasing the use of renewable energies (solar, wind and biomass) from 10% to 23% in the electrical matrix. Goal: cutting 43% of the emission of polluting gases until 2030. Fact: in 2030, aka the day after tomorrow, we would have to produce 50 billion liters of fuel ethanol, according to the government.


Durante a palestra, Roberto destacou, principalmente, as facilidades para a implementação do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) e da Rede de Fomento ILPF - parceria público-privada, criada em 2012, para incentivar a transferência de tecnologias e estimular a adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) no Brasil. | 
During the lecture, Roberto highlighted, mainly, the easiness for the implementation of the Sectoral Plan for Mitigation and Adaptation to Climate Changes for the Consolidation of a Low Carbon Economy in Agriculture (ABC Plan) and of the ILPF Development Network - public-private partnership, created in 2012, to encourage technology transfer and stimulate the adoption of crop-cattle raising-forest integration (integração lavoura-pecuária-floresta – ILPF) systems in Brazil.


"Estamos no caminho certo. O agronegócio enfrenta um grande desafio, mas tem condições de produzir tecnologia para promover mudanças nos sistemas de produção. Podemos garantir condições de alimentar o mundo e promover a paz. Afinal, não haverá paz onde houver fome", defende Roberto Rodrigues. | 
“We are on the right track. Agribusiness faces a great challenge, but it has the potential to produce technology to promote changes in production systems. We can guarantee conditions to feed the world and promote peace. After all, there will be no peace where there is hunger”, Roberto Rodrigues defends.

 

Roberto Rodrigues, Coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas


A ideia é otimizar os recursos e promover mudanças no sistema de produção de um mesmo solo, que  mesmo solo, tratado para a criação de animais ou o plantio (rotatividade e diversificação das lavouras), com previsão de plantio de árvores (sistemas agroforestais capazes de refrescar o clica, captar carbono e garantir bem-estar aos animais).
| The idea is to optimize resources and to promote changes in the production system of the same soil, treated for animal husbandry or planting (crop rotation and diversification), with tree planting prediction (agroforestry systems capable of refreshing the climate, capturing carbon and ensuring animal welfare).

Vale lembrar que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) foi extinto em 2016, pasta que fora voltada à promoção de modelos mais sustentáveis de produção. Em 2017, o plenário rejeitou a emenda do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) à Medida Provisória 782/17 que pretendia recriar o MDA. | It is worth remembering that the Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA - Ministry of Agrarian Development) was extinguished in 2016, a department that was aimed at promoting more sustainable production models. In 2017, the plenary rejected the amendment of Legislator Carlos Zarattini (PT-SP) to Provisional Measure 782/17 that intended to recreate the MDA.

 

Em 2017, já havia 14 milhões de hectares ocupados em sistemas ILPF no Brasil
Em 2017, já havia 14 milhões de hectares ocupados em sistemas ILPF no Brasil | In 2017, there were already 14 million hectares occupied in ILPF systems in Brazil

 

 

6-COZINHAMOS PARA TRANSFORMAR MUNDOS E SINAPSES
 

6-WE COOK TO TRANSFORM WORLDS AND SYNAPSES
 

Além do que disse a neurocientista Suzana Herculano, é bom colecionarmos exemplos como os de Rodrigo Corrêa Oliveira, biólogo imunologista da FioCruz. Ele é defensor do conceito recente de saúde única (one health concept), que pondera acerca do estudo da saúde imunológica de todos os seres vivos de forma encadeada, ou seja: que impacto teria, por exemplo, em nossa alimentação, no futuro, a resposta imunológica dos macados ao vírus da febre amarela (ainda que uns poucos primatas restassem na Mata Atlântica Brasileira). Essa ponderação não foi feita no Fru.To, mas aqui. E é pertinente à realidade e à pensata que levou o cientista. | In addition to what the neuroscientist Suzana Herculano said, it is good to collect examples such as Rodrigo Corrêa Oliveira’s, an immunologist biologist at FioCruz. He is an advocate of the recent one health concept, which ponders the study of the immune health of all living beings in a chained way, that is: what impact would the immunological response of monkeys to the yellow fever virus have, for example, on our diet, in the future (although a few primates remained in the Brazilian Atlantic Forest). This reflection was not made in Fru.To, but here. And it is pertinent to the reality and thought that led the scientist.

Ora, se o ambiente externo é capaz de alterar nosso microbioma (genes de nossa microbiota)/ microbiota (populações bacterianas que habitam um ecossistema, que pode ser o próprio homem, por exemplo), como crer que novas doenças, mutações genéticas decorrentes das alterações ambientais não serão capazes de alterar nossa relação com a alimentação e o balanço nutricional de que carecemos hoje? Quer saber mais sobre microbiota e microbioma? | Now, if the external environment is capable of altering our microbiome (genes of our microbiota)/microbiota (bacterial populations that inhabit an ecosystem, which may be man himself, for example), how can we believe that new diseases, genetic mutations resulting from the environmental changes will not be able to change our relationship with food and the nutritional balance that we lack today? Want to know more about microbiota and microbioma?

De fato, cozinhar, dominar a relação entre podres, crus, maturados, fermentados, agrotoxicados ou naturais nos faz ir além. As alterações climáticas nos fazem ir além. "Somos um bioma muito complexo e altamente adaptável", ponderou Rodrigo. Se cozinhar nos fez humanos, estudar as formas de transformar, processar o alimento, mais ainda. | In fact, cooking, mastering the relationship between rotten, raw, matured, fermented, pesticided or naturals makes us go further. Climate changes push us further. “We are a very complex and highly adaptable biome”, Rodrigo pondered. If cooking made us humans, studying the ways of transforming, processing the food, even more so.

 

"Somos um bioma muito complexo e altamente adaptável", pondera Rodrigo Rodrigo Corrêa-Oliveira, imunologista | “We are a very complex and highly adaptable biome”, immunologist Rodrigo Corrêa-Oliveira ponders 


Não fosse assim, não daríamos conta de produzir comida em ambientes extremos como Israel. David Leher, diretor do Instituto Arava de Estudos Ambientais, em Israel, mostrou como a agricultura ponderada pode ser vantajosa nesses locais dos quais se duvida(va). "Provomovemos o hidrossocialismo em um ambiente de altas variações hídricas e árido, em suma. A água potável de boa parte de Israel vem da dessalinização da água do mar ou do solo", afirmou. Essas águas alimentam a produção de uvas para vinhos e de tâmaras nos kibutz. | 
Otherwise, we would not be able to produce food in extreme environments like Israel. David Leher, director of Arava Institute for Environmental Studies, in Israel, has shown how pondered agriculture can be advantageous in these places where there is (was) doubt. “We provide hydrossocialism in an environment of high water variations and dryness, in short. The drinking water of great part of Israel comes from the desalination of seawater or from the soil”, he said. This water feeds the production of grapes for wines and dates in kibbutz.

OK. A que custo? Esse é o ponto. A pegada ecológica desta solução eureka! é alta em função do altíssimo uso de energia elétrica no processo.  Hoje, cerca de 80% da água potável consumida pela população israelense é proveniente do mar. Segundo a Agência Brasil, as negociações feitas por Israel com o nosso país são lideradas por empresários israelenses diretamente com estados como o Ceará e Maranhão, que sofrem com a seca. "A agricultura do futuro precisa dar senso de motivação, de sentido ao agricultor", resumiu David. | 
OK. At what cost? That is the point. The ecological footprint of this eureka! solution is high due to the very high energy use in the process. Today, about 80% of the drinking water consumed by the Israeli population comes from the sea. According to Agência Brasil, the negotiations carried out by Israel with our country are led by Israeli businessmen directly with states like Ceará and Maranhão, who suffer from drought. “The agriculture of the future needs to give a sense of motivation, of meaning to the farmer”, David summarized.

"A agricultura do futuro precisa dar senso de motivação, de sentido ao agricultor", resume David Leher, diretor do Instituto Arava de Estudos Ambientais, em Israel, país onde a dessalinização da água "resolve" (parte d)o problema | “The agriculture of the future needs to give a sense of motivation, of meaning to the farmer”, David Leher summarizes, director of Arava Institute for Environmental Studies, in Israel, country where desalination of water “solves” (part of) the problem.

 

7-MAPEAMOS UM MAR PARA PEIXE

7-WE MAP A SEA GOOD FOR THE FISH

 

Para nós, a frase resumo desta primeira edição do Fru.To foi a da brasileira Simone Jones, da Seafood Watch, ONG pertencente ao Aquário de Monterey Bay (Califórnia, Estados Unidos):  "O pescador embrulhava no jornal as escolhas de minha mãe", disse ela, referindo-se à infância vivida à beira mar. For us, the summary sentence of this first edition of Fru.To was Simone Jones’, from Seafood Watch, a NGO (Non-governmental organization) belonging to the Aquarium of Monterey Bay (California, USA): “The fisherman wrapped my mother’s choices in the newspaper”, she said, referring to her childhood by the seashore.

Que a notícia de hoje, emoldurada em linotipia caprichosa, servirá ao embrulho do peixe de amanhã, fato, desde a os anos 1960. Talvez haja, hoje, 1/100 dos jornais de outrora (o que deixa a embalagem dos pescados mais custosa). Mas também feneceu o volume de peixarias, o de espécies marinhas locais, a oferta de escolhas sensatas, o montante de informações coerentes. Com sorte, vez ou outra, ainda vemos alguém embrulhando com a informação consumida a escolha do dia, com a exata noção do que será servido à mesa em sequência. | 
That today’s news, framed in thorough layout, will serve as wrapping for tomorrow’s fish, is a fact, and it has been since the 1960s. There may be, today, 1/100 of the newspapers that existed in the past (which makes the packing of the fish more expensive). But the volume of fishmongers, the local marine species, the offer of sensible choices, and the amount of coherent information have also diminished. With luck, once in a while, we still see someone wrapping the choice of the day with the information consumed, with the exact notion of what will be served at the table afterward.

"90% dos pescados nos Estados Unidos são importados. E já chegam processados, claro. Se se pudesse ver quão lindo é um cherne, como eu via quando criança", conjectura Simone. Segundo ela, há um ritmo de captura insustentável de peixes de topo da cadeia, ricos em mercúrio, pelo acúmulo do metal tão nocivo à saúde noutras etapas da cadeia, sendo vendidos sem peso na consciência. | 
“Ninety percent of the fish in the United States is imported. And it gets there already processed, of course. If people could see how beautiful a white grouper is, as I saw it when I was a child”, Simone conjectures. According to her, there is an unsustainable rate of capture fish at the top of the food chain, rich in mercury, because of the accumulation of the damaging to health metal in other stages of the chain, being sold without any feelings of guilt.

 

Simone Jones, da Seafood Watch, ONG pertencente ao Aquário de Monterey Bay
Simone Jones, da Seafood Watch, ONG pertencente ao Aquário de Monterey Bay | 
Simone Jones, from Seafood Watch, a NGO belonging to the Aquarium of Monterey Bay

 

O cação que se come na Páscoa, ou noutra época, em forma de inocente moqueca, "porque tem pouco espinho", nada mais é que tubarão - atualmente, segundo dados de 2017 publicados no periódico científico Marine Policy ("Política Marinha", em tradução livre) e chegou às 45 mil toneladas anuais que os brasileiros levam às suas mesas. Produzimos 22 mil delas exclusivamente para o consumo interno e importamos outras 23 mil toneladas. Sim. Somos o maior mercado consumidor do astro de Spilberg e não devemos levar o Oscar por isso. Você está de boca aberta agora porque não sabia disso? | The dogfish that is eaten on Easter, or at another time, in the form of an innocent stew, “because it has little thorn”, is nothing more than a shark - currently, according to data from 2017 published in the scientific journal Marine Policy Brazilians take to their tables up to 45 thousand tons of this fish a year. We produce 22 thousand of them exclusively for domestic consumption and import other 23 thousand tons. Yes. We are Spilberg’s star biggest consumer market and we should not get an Oscar for it. Are you open-mouthed now because you did not know that?

Pois é. Simone, ao lado da jornalista Paulina Chamorro (Rádio Vozes/ Portal Ecoera) e de Céline Cousteau (ativista social e ambiental/ membro do Conselho de Oceanos do Fórum Econômico Mundial e, sim, neta de neta do oceanógrafo francês Jacques Cousteau), abençoadas por Yemanjá, trouxeram a discussão sobre o caminho das águas e a solução que o desincentivo à pesca de arraste (em paralelo à educação ambiental dos pescadores de todos os portes) pode trazer à alimentação do futuro - a despeito das trágicas previsões acerca da finitude das populações marinhas. | Well, yes. Simone, together with journalist Paulina Chamorro (Radio Vozes/Portal Ecoera) and Céline Cousteau (social and environmental activist/member of the Oceans Council of the World Economic Forum and, yes, granddaughter of the French oceanographer Jacques Cousteau), blessed by Yemanjá, brought the discussion about the waterway and the solution that the discouragement  of  trawling (alongside the environmental education of fishermen of all levels) can bring to food of the future - in spite of the tragic predictions about the finitude of marine species populations.

Simone Jones, ao lado da jornalista ambiental Paulina Chamorro e da ativista Céline Cousteau
Simone Jones, ao lado da jornalista ambiental Paulina Chamorro e da ativista Céline Cousteau, no Fru.To | Simone Jones, next to environmental journalist Paulina Chamorro and activist Céline Cousteau, in Fru.to


"Devemos agradecer a nossa primeira respiração do dia às plantas e a segunda ao mar. Ser gratos pelo ar que respiramos é um passo importante à tomada de decisões. E qual o custo da pesca de arraste para o futuro do mundo? Porque o pescador tem encomendas e a rede que ele lança não faz distinção entre o camarão que ele quer e as tartarugas que vem junto e são jogadas fora. É preciso educar para mudar o mundo", suporta Céline. | 
We must thank the plants for our first breath of the day and the sea for the second one. Being grateful for the air we breathe is an important step in the decision making process. And what is the cost of trawling for the future of the world? Because the fisherman has orders and the net that he casts does not distinguish between the shrimp he wants and the turtles that come along and are thrown away. It is necessary to educate in order to change the world”, Céline supports.


E, aí, falamos em rastreabilidade, termo que já vem se desgastando tanto quanto sustentabilidade pelo uso indevido. Um chef como Eudes Assis, na beira da praia, em São Sebastião, sabe exatamente em que condições conseguiu o azul-marinho do dia, que servirá ao banquete de um paulistano como Alex Atala, numa visita trivial. Contudo, a sorte de fitar homens ao mar é contada nos dedos: são poucos os clientes e cozinheiros que sabem de qeue cadeia produtiva estão falando na boca. Você é sashimi lover? De onde vem seu atum azul? E o salmão vermelhinho postado sobre a pedra, encostado nos hashis? | 
And, then, we talk about traceability, a term that has already been worn out as much as sustainability due to misuse. A chef like Eudes Assis, on the seashore, in São Sebastião, knows exactly how he got the azul-marinho (blue sea fish, in free translation) of the day, which will be a special feast for someone from São Paulo, like Alex Atala, in a trivial visit. However, the luck of looking at men in sea can be counted on your fingers: few are the customers and cooks who know what productive chain they are speaking of. Are you a sashimi lover? Where does your bluefin tuna come from? And the red salmon laid on the stone, leaning against the chopsticks?
 

 

8-PARA COMBATER A FOME E O DESPERDÍCIO

8-TO COMBAT HUNGER AND WASTE
 
A fome não é novidade, mas é "news". Estava acomodada, surfando em maré pós-prandial ao menos nos balancetes mundiais, até 2016. No Brasil, sobretudo. 777 milhões de pessoas no mundo não tinham o que comer em 2015. Quase 1/7. Em 2016, a fome afetou 815 milhões de pessoas ou 11% da população global. Basicamente 1/7. 2 bilhões sofriam com a má nutrição, boa parte delas na África. Basicamente 2/7. 2,5% da população brasileira era afetada pela fome em 2015, contra 10,7% em 2002. | Hunger is not new, but it is news. It was settled, surfing in postprandial tide at least in the world balance sheets, until 2016. In Brazil, especially. Seven hundred, seventy seven million people in the world did not have what to eat in 2015. Almost 1/7. By 2016, hunger affected 815 million people or 11% of the global population. Basically 1/7. Two billion suffered from malnutrition, most of them in Africa. Basically 2/7. In 2015, 2.5% of the Brazilian population was affected by hunger, against 10.7% in 2002.

Esses números, da ONU, são retratos de circunstâncias. A má distribuição de renda contribui sempre ao rugir de estômago e, em 2017 acordamos putos. 82% da riqueza ficou concentrada nas mãos dos 1% mais ricos, enquanto a metade mais pobre - o equivalente a 3,7 bilhões de pessoas - ficou com nada, segundo dados da ONG britânica Oxfam apresentados em Davos, há pouco. | These UN figures represent a portrait of circumstances. The unequal distribution of income always contributes to the growl of the stomach and, in 2017 we woke up pissed off. Eighty two percent of the wealth was concentrated in the hands of the 1% richest people, while the poorest half - equivalent to 3.7 billion people - was left with nothing, according to data from the British NGO Oxfam, presented in Davos recently.

As alterações climáticas também cessam ou minam a produção de alimentos sazonalmente. Segundo pesquisadores da Universidade de Oxford, em uma avaliação sobre 155 países, em estudo publicado em 2016 na revista médica The Lancet, o impacto das mudanças climáticas na produção de alimentos em todo o mundo tem o potencial de levar à morte extra de 529 mil adultos em 2050. Não é balela. | Climate change also ceases or undermines food production seasonally. According to researchers at the University of Oxford, in an assessment of 155 countries, in a study published in 2016 in the medical journal The Lancet, the impact of climate change on food production worldwide has the potential to lead to the death of an additional 529 thousand adults in 2050. It is not bullshit.

Jason Clay, que comanda todo o trabalho da WWF Estados Unidos referente à agricultura, aquicultura, negócios e indústria, finanças, pesca e florestas, destacou que a maior das ameaças ao futuro não é a expansão urbana, mas agrícola. Carecemos de um litro de água para produzir 1 caloria. "O maior desafio será suprir a nova demanda por proteína animal, pois novos territórios serão ocupados por populações exigentes em dieta", alerta. Jason Clay, who heads the entire United States WWF work on agriculture, aquaculture, business and industry, finance, fishing and forestry, highlighted that the biggest threat to the future is not urban but agricultural expansion. We need one liter of water to produce one calorie. “The biggest challenge will be to meet the new demand for animal protein, because new territories will be occupied by populations that are selective about their diet”, he warns.

 

Jason Clay, que comanda todo o trabalho da WWF Estados Unidos referente à agricultura:
Jason Clay, que comanda todo o trabalho da WWF Estados Unidos referente à agricultura: "O maior desafio será suprir a nova demanda por proteína animal, pois novos territórios serão ocupados por populações exigentes em dieta". | Jason Clay, who heads the entire United States WWF work on agriculture: “The biggest challenge will be to meet the new demand for animal protein, because new territories will be occupied by populations that are selective about their diet”.


O sorgo, conta ele, já está substituindo o milho nos Estados Unidos (usado para o abastecimento da alimentação animal) e ocupando as regiões mais ao Norte e próximas ao Canadá, por causa do clima. As frutas, que eram massiçamente produzidas na Califórnia, de clima quente e seco, demandariam cerca de US$ 1 milhão de investimento por acre para serem produzidas em locais de clima mais ameno, como na Costa Leste. Já a canabis vem ganhando territórios na Califórnia, por sua vez. Mudam as demandas, muda o mundo. | 
Sorghum, he says, is already replacing corn in the United States (used for animal feed) and occupying the northernmost and closer to Canada regions, because of the weather. Fruits, which were massively produced in California with hot, dry weather, would require an investment of about US$ 1 million per acre to be produced in milder weather, such as the East Coast. Cannabis, on the other hand, has been gaining territory in California. The demands change, the world changes.

Ainda que tenhamos superfotossínteses, agricultura vertical, proteínas sintéticas super cool e super vacas leiteiras (o empresário estadunidense Bill Gates investiu mais de US$ 40 milhões de dólares na ONG GALVmed, que conduz pesquisas genéticas), geneticistas porretas e menos monoculturas... Ainda que menos de 70% do território mundial (nível de agora) seja usado para alimentar a galera. | Even though we have superphotosynthesis, vertical farming, super cool synthetic proteins and super dairy cows (US businessman Bill Gates invested more than US$ 40 million in the GALVmed NGO, which conducts genetic research), cool geneticists and less monocultures… Even though less than 70% of the world’s territory (current level) is used to feed the crowd.

E que galera. A população mundial atingirá 9,1 bilhões em 2050 e, por isso, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) prevê que o mundo precisará produzir mais 70% de alimento que hoje. Agronegócio? Brasil como solução à fome mundial? Vento em popa? Agro é pop? E o pop não poupa... Ninguém. | And what a crowd.  The world population will reach 9.1 billion by 2050, and, therefore the Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) predicts that the world will need to produce 70% more food than it does today. Agribusiness? Brazil as a solution to world hunger? Full steam ahead? Is agro pop? And pop does not spare... Anyone.

Isadora Ferreira, do Centro de Excelência contra a Fome, do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, destacou o compromisso pela cooperação entre países do Sul na área de segurança alimentar e nutricional, com foco em alimentação escolar. Noutras palavras, a ONU sabe que alimentar crianças de forma adequada nutricional e culturalmente (com respeito às tradições e à biodiversidade) é sagrar a elas a possibilidade de progredir intelectualmente. Quando a gente come, fica mais inteligente e pronto para mudar o mundo. | 
Isadora Ferreira, from the Center for Excellence against Hunger, of the United Nations World Food Program, highlighted the commitment to cooperation between countries in the South in the area of food and nutritional security, with focus on school feeding. In other words, the UN knows that nurturing children in a nutritional and culturally appropriate way (with respect to traditions and biodiversity) is to give them the possibility of advancing intellectually. When you eat, you become smarter and ready to change the world.


"Nosso trabalho é fazer com que os países em desenvolvimento promovam ações para acabar com a fome no mundo. E, para isso, as políticas públicas são indispiensáveis. A alimentação escolar traz múltiplos benefícios para as crianças, para os agricultores familiares, para as economias locais, gera emprego para as mulheres (merendeiras), incentiva as crianças a manterem as crianças matriculadas e frequentando as escolas, inclusive meninas que vivem em regiões em que normalmente seriam privadas da educação", enumera os benefícios do programa. |
 “Our work is to get developing countries to take action to end hunger in the world. And, in order to do that, public policies are indispensable. School feeding brings multiple benefits for children, for family farmers, for local economies, it generates employment for women (school cooks), encourages families to keep their children enrolled and attending schools, including girls living in areas where they would normally be deprived of education”, she enumerates the benefits of the program.

 

Isadora Ferreira, do Centro de Excelência contra a Fome, do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas
Isadora Ferreira, do Centro de Excelência contra a Fome, do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas | 
Isadora Ferreira, from the Center for Excellence against Hunger, of the United Nations World Food Program

 

9-EDUCAMOS O GOSTO DOS PEQUENOS

9-WE EDUCATE THE TASTE OF THE LITTLE ONES


Rose, Isadora, Simone e outros palestrantes deixaram bem claro o óbvio:
é preciso educar o gosto dos pequenos. Petrini recita isso como mantra desde 1989. E Bela Gil, fez coro com ele. Usando hashtags como pontos de marcação de fala e espécie de manifesto pessoal, a apresentadora e especialista em cozinha natural destacou o contrasenso que há, inclusive dentro das escolas, quando uma criança, como Flor, sua filha, chega ocm uma marmitinha saudável. "O bulying é imenso em relação á alimentação saudável", destacou ela, à frente do projeto Bela Infância, que ensina crianças de escolas públicas e particulares a se alimentarem melhor e a combaterem a obesidade infantil. | Rose, Isadora, Simone, and other lecturers made the obvious very clear: it is necessary to educate the taste of the little ones. Petrini has recited this as a mantra since 1989. And Bela Gil joined in the chorus with him. Using hashtags such as punctuation marks and a sort of personal manifesto, the TV presenter and specialist in natural cooking highlighted the nonsense that exists, including in schools, when a child, like Flor, her daughter, arrives with healthy food in her lunch bag. “Bullying is huge in relation to healthy eating”, she highlighted, at the head of the project Bela Infância, which teaches children in public and private schools how to eat better and fight childhood obesity.

 
"Vejo como é difícil mudar hábitos alimentares não só das crianças, mas dos pais. Uma vez que as crianças aprendem muito mais por observação do que os pais consomem. Junto com o Instituto ATÁ, e com o chef Alex Atala, temos um projeto para inserir a culinária no currículo escolar", situa. |  “I see how difficult it is to change not only children’s, but parents’ eating habits. Once children learn a lot more by observation of what their parents consume. Together with Instituto ATÁ, and chef Alex Atala, we have a project to include cooking in the school curriculum”, she explains.
 
 
Bela Gil, no Seminário Fru.To



Janaína Rueda não estava por lá. Mas seria impossível deixar de lembrar do trabalho da cozinheira do Bar da Dona Onça (SP) à frente da mudança da lógica da merenda escolar na cidade de São Paulo. Ela vem ensinando técnicas culinárias às mais de 2 mil merendeiras do Estado e promovendo uma revisão dos gostos dos pequenos pela mera introdução da comida de verdade ao cotidiano. | 
Janaína Rueda was not there. But it would be impossible not to remember the work of the cook of Dona Onça Bar (SP) at the head of the change in the logic of school lunch in the city of São Paulo. She has been teaching culinary techniques to more than two thousand school cooks in the state of São Paulo and promoting a review of the tastes of the little ones by simply introducing real food to everyday life.

Na Fazenda da Toca (Itirapina/SP), que visitamos em companhia de alguns palestrantes, no domingo seguinte ao desfecho do Fru.To, tambem há um projeto bacana de educação infantil do paladar - a culinária está no Centro do projeto e, segundo a geógrafa Olívia Gomes, que nos acompanhou na visita, só falta alinhar intensões para que mais cozinheiros se envolvam no projeto, em vigor desde 2009. | At the farm Fazenda da Toca (Itirapina/SP), which we visited in the company of some lecturers, on the Sunday following Fru.To’s conclusion, there is also a nice project for children’s education of the palate - cooking is in the center of the project and, according to geographer Olívia Gomes, who accompanied us on the visit, it only takes alignment of intensions in order to get more cooks involved in the project, which came into effect in 2009.

 

10-NA BATALHA PELAS BOAS NOTÍCIAS

10-IN BATTLE FOR GOOD NEWS
 

Diálogos Comestíveis arrumou mais #MotivosParaDialogar com Alex Atala e com boa parte dos palestrantes a fim de saber qual deve ser o papel da imprensa - híbrida e em fase transacional de "produção de conteúdo", nem sempre, relevante - para tornar a gastronomia (e o mundo) mais sustentável. Em breve a gente sobe os vídeos e já pede desculpas, de antemão, por não contar TUDO o que foi dito em 31 palestras e 72 horas. A gente chega lá! Mas garanto que fomos alé da borda. | Edible Dialogues got more #ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar) with Alex Atala and with a good number of the lecturers in order to know what should the role of the press be - hybrid and in a transactional phase of “content production”, not always, relevant - to make gastronomy (and the world) more sustainable. Soon we will upload the videos and we apologize, in advance, for not telling EVERYTHING that was said in 31 lectures and 72 hours. We'll get there! But I assure you we went beyond the edge.

Ora, holísticos também somos e não é possível que escrevamos apenas sobre o abre e fecha de casas, ingredientes ou dietas ou receitas da moda e basta. Tampouco que prestemos ao vexatório papel de meros copidesques de releases (papagaios de piratas, quase literalmente). Em época de fake news, estamos rasos de tanto too much. Já falamos sobre isso em post.
 | Well, we are holistic too and it is not possible for us to write just about the opening and closing of commercial establishments, ingredients or diets or fashionable recipes and call it a day. Nor do we play the embarrassing role of mere copycats of press releases (pirates parrots, almost literally). In time of fake news, we are fed up of so much “too much”. We already talked about this in post.

 

Nosso recado no mural do Fru.To
Nosso recado no mural do Fru.To | Our message in Fru.to’s board



Desde setembro de 2015, quando
Diálogos Comestíveis nasceu, apostamos ter muitos #MotivosParaDialogar sobre sustentabilidade. O que a gente quer não é mesmo só comida. É cultura. A gente tem fome de conteúdo, de mudança. E lança aqui o desafio para 2018: que pauta gastronômica você quer ver publicada? Que reportagem gostaria de ver circulando por aí? | Since September 2015, when Edible Dialogues was born, we bet we would have many #ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar) about sustainability. What we want is really not just food. It’s culture. We are hungry for content, for change. And here we set the challenge for 2018: what gastronomic agenda do you want to see published? What news report would you like to see spread?

Cada conteúdo tem seu lugar, mas pode ser transmídia e multimídia, né? Sugira, por favor. É de curiosidade que se vive. O Fru.to foi o estopim de um movimento que já havíamos abraçado. Serviu energético a nós e a muita gente. E só podemos dizer que a novidade há de pintar. | 
Each content has its place, but it can be transmedia and multimedia, right? Suggest, please. It is out of curiosity that one lives. Fru.to was the trigger of a movement we had already embraced. It has infused us and so many others with energy. And we can only say that more news are about to come.

Ajude-nos a ter sempre #MotivosParaDialogar. Contar histórias de valor é nosso compromisso. Em tempo: nossa linha editorial é independente e não temos um centavo de patrocínio. Ainda! Se quiser e puder apostar em nosso projeto, por favor, escreva para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. smiley  O jornalismo merece. A gastronomia também. Os atores da vida real agradecem. | Help us to always have #ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar). Telling valuable stories is our commitment. On time: our editorial line is independent and we do not have a penny of sponsorship. Still! If you want and can bet on our project, please write to Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. Journalism deserves it. Gastronomy too. Real-life actors appreciate it.

What gastronomic agenda do you want to see published?
#ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar)

 

What news report about sustainability do you want to see spread?
#ReasonsToDialogue (#MotivosParaDialogar)

 

 

{module [160]}