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MatriX dos Diálogos Comestíveis

MatriX dos Diálogos Comestíveis

| Pensamentos devorados

Érica Araium

Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.

Érica Araium

Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.


Todo comer somos nós quem desenhamos. O que "comeremos", tanto em termos de informação quanto de alimentos, depende mais do que legamos "em rede" do que o que semeamos (na prática). Ou você ainda acredita que o que leva à boca é "escolha" unicamente "sua"? O input, sim, é seu. Mas o produto Eureka! desenvolvido pela indústria para aplacar necessidades diversas (praticidade, conforto, sabor de infância e mais) foi desenvolvido, garanto, bem antes de você "descobrir" algo na gôndola - virtual ou real, tanto faz. Seu rastro cria os desejos. Que depois lhe serão vendidos entre novos bites e bytes desconstruídos em "pratinhos" (as telas digitais) que cabem na palma da mão. O que é ser moderno? Tupi or not tupi?

Digressão. Corta pra aquele tempo de charretes e chapéus, alguns "bi-bis" e uma "Fon-Fon" (pra fazer referência à revista de cultura daqueles anos 1910). Quando pensamos acerca do que é "moderno" e do "modernismo", embalados pelo que vimos discutindo no agora, contexto do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e do bicentenário da Independência do Brasil, torna-se impossível ignorar o paralelismo entre mundos tão desafiadores e tão distintos. O Brasil dos anos 1920 bebia tanto café quanto leite e recebia europeus importados cheios de sonhos. Heitor Villa-Lobos (1887-1959) ainda não tocava no Spotify. Mas, depois de uma andança pelo norte e nordeste do país já tão palmilhado por ele, foi tocar no Theatro Municipal de São Paulo a convite de Graça Aranha (1868-1931). Integrar o evento.

Lasar Segall, depois de chegar da Alemanha fervilhante, em 1913, mostrava o que era o "expressionismo" aos paulistanos e aos campineiros - ah, os barões do café que rodavam pelo interior de São Paulo... nada compreenderam à época da arte de Segall. Ser moderno... nem sempre é ser compreendido? Ser de vanguarda, como os modernistas, então... É ser até hoje incompreendido? Não somos especialistas em modernismo e, tampouco, temos a pretensão de analisar a "semana" ou o "movimento" ou o "manifesto".  O que ponderamos são os pesos e as medidas que damos à palavra.

Há que se notar que o anseio de "ser percebido como "moderno"", no Brasil, contudo, data muito antes da década de 1920. Como adjetivos, moderno e moderna começam a pipocar com alguma frequência no discurso literário brasileiro a partir das duas últimas décadas do século XIX. O emprego jornalístico da palavra tornou-se corriqueiro nas primeiras décadas do século XX, geralmente com o intuito de qualificar algum processo ou atividade como novidade tecnológica: cinema, aeroplanos, automóveis, eletricidade, arranha-céus" (vida Modernidade em Preto e Branco, p. 20, Rafael Cardoso, Companhia das Letras). 

E hoje? A quem e o que adjetivamos? De que maneira? Quem nos influencia?

Está aí a noção de que o consumo de informações, que depende de repertório (e, portanto, do que se consome em termos de "cultura"), isso a qualquer tempo e época, norteia o prato cheio da mídia. A quem damos voz? A quem demos voz? A Tarsilas e a Oswalds? E os outros modernos? 

Aba poru. O homem que come (gente). O homem, quem come?

Pensamos em misturar os diferentes sentidos de "comer" e de "alimento" ao tocar naquilo que nos foi dado como totem do mito "Semana de Arte Moderna de 1922", com todos os seus heróis. 


 

METODOLOGIA PARA QUEM COME

Para traduzir um conjunto de sentidos acerca do que é ser moderno no Brasil contemporâneo, criamos um projeto divertido embalado por PALAVRAS. A ideia é transformá-las em imagens que simbolizem, ainda que de forma efêmera, mas documental, outras camadas de sentido bastante "modernas". Pensamos em quem são "aba porus", hoje. Que nos cercam e, livres, fazem o que bem querem como indivíduos que são. Pensamos em muitos nomes significativos, muitos. Sorte a nossa ter esses nomes por perto. Cada um deles nos enviou 20 palavras sobre temas pré-definidos (entre parênteses). E criamos imagens a partir desses "textos". 

"Processo Criativo" (Tatiana Lunardelli)
"Food Styling" (Juliano Albano)
"Fotografia de Comida" (Nazaret Nascimento)
"Gastronomia Brasileira" (Carlos Gustavo Pacheco)
"Gastronomia Social" (Ana Bueno)
"Design" (Érika Pozetti)
"Cozinha Afetiva" (Jane Lutti)
"Produção Cultural" (Felipe Ribenboim)

Partimos das nossas 20 palavras para tentar traduzir o que entendemos por "diálogos comestíveis". As escrevemos, individualmente, em uma folha em branco, por dez minutos. Buscamos o nada. Partimos do silêncio. Rabiscamos uns papéis. E não olhamos para nenhuma outra camada de sentido modernas antes de criar imagens que traduzissem: "Diálogos Comestíveis".

Palavras? Vieram propósito, brand, palavra, conexão, design, alimento, gosto, criar, comer, comensalidade, rede, gestão, cultura, informação, voz, repertório, circularidade, sustentável, diálogos, comestíveis. A óbvia noção de vivemos em bolhas de percepção acerca do que é importante ou comestível veio à tona. Também a afiliação entre a biologia e a tecnologia - rumamos a ciborgues, se é que já não somos. 

Fizemos, então, três produções - duas complementares, "Matrix dos Diálogos 0 (1920 x1080 px)" e Matrix dos Diálogos 1 (1080 x 1920 px)", vídeos concebidos por Carolina e criados por mim. E "Diálogos da Iconofagia", colagem concebida por mim e executada em "dupla hélice" (não podia perder o trocadilho, foi mal). Fizemos mais uma food art (sem título, FOTO ACIMA).

 

 

Diálogos da Iconofagia
Diálogos da Iconofagia, colagem (Diálogos Comestíveis)

 

 

DIÁLOGO CONCEITUAL

 

Esses trabalhos resgatam o exposto em minha dissertação de mestrado (2020) que, em  breve, circulará como livro. Nela, trouxe, já pelo fim, noção de que internet é cultura. E do quanto a cultura influencia todo o comer.

Afinal, ela “representa um lugar, um ciberespaço, onde a cultura é constituída e reconstituída” (HINE, 2000, p. 9). “Um artefato cultural onde há dispersão da produção e do consumo do discurso” (HINE, 2000, p. 33). Um produto da cultura, num sentido mais amplo, à qual se recorre desde 1992, graças ao cientista Tim Berners-Lee, para “saber-se” das coisas. Se está na internet, é “verdade”?  Esse é, ainda, um dos discursos que circula no e pelo digital e sobre o qual há que se fazer novas perguntas. Pois há aí uma noção de discurso nas e das cidades - o “alimento” que escolhemos comer hoje, sem “sair do lugar”, muitas vezes, porque a próxima garfada está a um “clique”, afeta as paisagens do futuro. Há um sentido outro, contraditório, de mobilidade na conectividade, como ensina Dias (2018): "Desse modo, penso a mobilidade como conectividade, ou seja, uma mobilidade que se produz porque há certos dispositivos conectados uns aos outros, assim como, por meio deles, sujeitos ligados uns aos outros. A cidade contemporânea formada por redes de conectividade é a conecticidade". (DIAS, 2018, p. 119).

Quando esse texto cair na web, o que será que dirão sobre "Diálogos Comestíveis" e seus #MotivosParaDialogar?

Em breve tem mais textos. De abaporus.

Leia agora o texto 1 desta série.

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