Érica Araium
Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.
Érica Araium
Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.
Aposto que sim. Antes do texto, contexto. Estava às voltas com meu conteúdo - Diálogos Comestíveis - Porque todo comer é você quem desenha (Editora Dialética, 2022) - em parte apresentado à audiência do Galunion Insights 2024. No final da tarde do primeiro dia de palestras, enquanto "trocava ideias" com a chef fluminense Vanessa Rocha, do Maria e o Boi (Bib Gourmand 2024). "Do nada", comecei a conversar com Alessandra Gaidargi, que chegou pelas beiradas querendo saber mais sobre "brasilidades". Lá pelas tantas, notamos que nossos pensamentos são convergentes. Apontam para um mesmo rumo. E, muito embora, sejamos diferentes. Ela me contou sobre o Gastronomia Dialógica. Eu, sobre a palestra que daria no dia seguinte e meus #MotivosParaDialogar. Dois dias depois, nasceu esse texto. Boa leitura!
“A gastronomia é veículo de significados”. “É também veículo de comunicação”. Ambas as afirmações de Gaidargi em “Gastronomia Dialógica” me aproximam da noção da gastronomia como linguagem, que defendo com garfo e grafos em minha pesquisa/ livro “Diálogos Comestíveis”. Creio que todos os diálogos são comestíveis. E que, para avançarmos em relação à compreensão do que é “alimento”, precisamos, ainda, gastronomar.
Ora, gastronomar, neologismo desta jornalista, pressupõe flertar com a alta cozinha (haute cuisine) e com o empratado mais simples e simbólico de qualquer resistência ao habitus - tão umbigar, individual (e tão social ao mesmo tempo). É subverter a lógica do comer ao tornar-se parte do que é comestível. É, portanto, antropogarfar: deglutir os sentidos que há para além do gosto(so) e, assim, decidir pelo que fará bem (e não, necessariamente, será meramente prazeroso) para si (ligado à noção da saudabilidade), para as gerações que virão e para o meio-ambiente.
Pois somos seres antropofágicos e, culturalmente, nos vimos atravessados, nesta dobra do tempo, por uma coleção (por vezes non-sense) de paradoxos: fome e alimento, por exemplo. A algoritmia que nos “leva a” fazer certas escolhas, como indivíduos inseridos em muitos, muitos contextos sociais e, obviamente, culturais, define todo o aparato crítico a que deveremos recorrer para dar cabo a elas - as tais “escolhas” -, como bons editores de constructos. Esses constructos que, volta e meia, por razão nenhuma de interesse escancarado, “vai parar” (porque somos “levados a”) numa rede social. Por exemplo. Falamos pelos cotovelos e o comer, esse conjugar absolutamente rastreável, se perde no palheiro imenso de “conteúdo”.
O sentido das coisas, esse mais tangível, entendo decorrer do que se leva à boca e se arquiva – ou, melhor dizendo, se guarda na memória. Isso, sim, diz da construção do gosto em seu sentido mais amplo. E a construção do gosto, como defendo, é um complexo capítulo à parte escrito gerações após gerações e ratificado em receituário-legado oral-textual-digital-transbinário.
Só um lembrete, aqui movida à energia mobilizadora de Paulo Freire: o diálogo depende da dialética. E, por mínima que seja a divergência entre pontos de vista, é ela – a distinção, que Bourdieu nos lança – que nos aterriza e individualiza. O trunfo da autenticidade no vapor de tantos efêmeros é algo tão valioso quanto vaidoso.
Assim, compete, também, dizer o quão cara (valorosa) é a diversidade de opiniões e trejeitos e insumos e técnicas e processos e objetaria e ensinamentos etc que sustenta o comer. Sem ela e, por conseguinte, a biodiversidade, a paisagem comestível é monotemática, monocromática e, a cada dia mais, desidratada e esfumaçada.
Todo padrão comestível (food pattern) é belo, belíssimo à distância. Aproxime-se para ver os detalhes e, então, entenderá, que o que é imperfeito, improvável e excêntrico é o que nos perpetua e alimenta. Vamos fazer mundos! E deixar que as diferenças ponham as mesas.
Érica Araium | setembro de 2024 | ainda inverno no Brasil, que arde
Diretora Executiva de Diálogos Comestíveis
Consultoria de Branding orientada ao ESG
Junto a marcas com propósito
Temos #MotivosParaDialogar