Érica Araium
Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.
Érica Araium
Idealizadora de Diálogos Comestíveis, estrategista de branding, marketing e comunicação. Jornalista. Palestrante. Ávida por #MotivosParaDialogar.
Para quem trabalha com comunicação, arte e design (meu caso), a Semana de Arte Moderna traz um tanto de viço. De vida. E de referências múltiplas de um Brasil antropófagico. Faz pensar em Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e plêiade de outrora. Junto deles, dá para pensar em um multiverso, a la Stephen Hawking - ou seria "meta"verso, a la Mark Zuckerberg -, muito colorido e saboroso, próprio da alimentaria brasileira.
O jeito de ser brasileiro, em 2022, reflete um punhado de escolhas anteriores. Elas dizem da estética, da originalidade, da curiosidade, dos materiais disponíveis, das matérias-primas, dos processos criativos, da funcionalidade obtida, do acesso à informação etc e, por conseguinte, da antropologia do consumo à nossa moda, com as cores nacionais. Nosso abaporu não tem nada de misterioso, na verdade.
Pra facilitar esse argumento de "entrada", basta dizer que, desde o advento da web, legamos inputs à rede que alimentam o mundo das indústrias - da pesquisa, do desenvolvimento e da inovação. Também da cultura, campo onde a gastronomia se insere. Esses inputs legados (um "o que é Abapuru?" ao Google, por exemplo) são lidos pelas inteligências artificiais, algorítimos e sistemas cognitivos capazes de processar estas informações e criar novos alimentos, super alimentos, ultra alimentos - alimento, aqui, compreendido como qualquer coisa em termos de informação e de comida.
Já imaginou o que é ceifar insights para a criação de soluções comestíveis em meio ao BIG DATA? O que estamos buscando? Todos nós, afinal, contribuímos à exponencialidade dos dados. Todos nós criamos nossos Abapurus. Nem sempre, porém, eles são apreciados por quem pode elevar uma obra pintada em segredo e, então, emoldurada, à categoria de "símbolo brasileiro".
Será, então, por exemplo, que Tarsila não foi apenas uma das muitas vozes artísticas prementes (porém apagadas) de um movimento modernista? Será que não foi um viés? O jornalista Ruy Castro lançou, ainda em 2021, "As Vozes da Metrópole", obra em que lista mais de 40 nomes que fizeram parte da Semana de Arte de 1922 (de 13 a 17 de fevereiro). Quantas haveria além?
A rev0luçã0 d1g1tal, s0bretud0 1mpuls10nada na pandem1a (estam0s n0 an0 3 dela) parece haver reacend1d0 a 1mp0rtânc1a d0 fazer c0m as mã0s, de ret0mar-se a f0rma 0r1g1nal de cr1ar, em rede, um quase tud0: 0 pã0, 0 quadr0, 0 vest1d0, 0 c0nteúd0 que va1 para as redes, a letra da mús1ca, 0 entreten1ment0 que seduz pela arte e pel0 je1t0 que n0s leva a pensar (0u f1l0s0far)... a p0nt0 de c0mpart1lhar e "rem1xar" 0 abs0rv1d0. Em 2022, expl0d1ram 0s bras1s nas telas. E eles sã0 c0nsum1d0s sem restr1ções. Será?
Tud0 depende da b0lha em que se "v1ve". A fat1a de Bras1l que c0nsum1m0s p0de estar atrelada a0 que suas A1's lhe resp0ndem. Ass1m c0m0, n0 c0ntext0 de 1922, 0 m0dern1sm0 só era dad0 a "m0dern1sm0" a quem f0sse ma1s que m0dern0 (0 que parece um c0ntrasens0). Heró1s c0m e sem caráter c0ex1stem em n0ss0s múlt1pl0s 0lhares s0bre a naçã0.
Fato é que os sentidos da Semana de Arte Moderna, a colhida no Theatro Municipal de São Paulo, circulam há uma centena de anos como arcabouço do ideário de "ser brasileiro" "e moderno" (é bom lembrar que o Manifesto Antropofágico foi idealizado, em 1928, por membros da elite intelectual e artística paulistana) que a efeméride merece um lugar aqui em Diálogos Comestíveis. Ela fez um "boom" cultural à época, mexeu com a política, com a mídia e abriu os trilhos para as discussões sobre "cultura" (engraçado que houve um terremoto em São Paulo, no final de janeiro de 1922; um presságio do furdunço do modernismo?).
É bom lembrar, também, que a Sampa de outrora era uma espécie de província em desenvolvimento. O Rio de Janeiro, moderno, era a capital do país e única cidade com um milhão de vozes disponíveis, por exemplo.
NOSSO "MANIFESTO ANTROPOFÁGICO"
São muitos os #MotivosParaDialogar. E vozes a ouvir: convocamos nossa plêiade para fazer um singelo gesto "aba" "poru" ("homem que come gente") por meio da arte e do digitalizar do pensamento. Este texto é o primeiro de uma série.
Tratamos de comer palavras e devolvemos em forma de imagem. Foi um exercício semiótico e tanto. E um processo incrível de análise do discurso. Daria uma longa pesquisa o material recolhido. Contudo, preferimos fazer arte "com as mãos" - Carolina de Avilez e eu.
Pedimos a Felipe Ribenboim (chef e produtor cultural), Juliano Albano (food stylist), Erika Pozetti (designer), Tatiana Lunardelli (historiadora e doutora em comunicação e semiótica), Ana Bueno (chef de cozinha e empresária), Jane Lutti (jornalista e escritora), Carlos Pacheco (jovem cozinheiro autodidata) e Nazaret Nascimento (fotógrafa de alimentos portuguesa) para nos enviarem 20 palavras acerca de um tema pré-definido.
Já dissemos por aqui da importância de rastrear-se o comestível. E repetimos o quanto cremos que todo comer somos nós quem desenhamos. Pronto. Desde janeiro, estamos desenhando. A matutar sobre quem são os atuais "abaporus" que nos provocam a comer de um jeito "diferente": com maior liberdade indivisual e consciência coletiva. Nem tão apegada à estética quanto antes da pandemia de Covid-19. Mais afeitos à ética.
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Neste 2022, o bicentenário da independência do Brasil num especialíssimo ano eleitoral também deve, ainda acender novas questões sobre pautas como o agronegócio, o uso de defensivos agrícolas, a vocação de celeiro alimentar do país. Mas este é assunto para o segundo semestre! Por ora, vale assinalar que a Semana de Arte Moderna foi organizada por ocasião do Centenário da Independência. O compromisso com a independência cultural do país passava a regra.
E agora? O que temos? A gente volta logo com mais #MotivosParaDialogar. Até o próximo post!
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