O sabor da Ásia está no Vietnã

Para ler antes ou depois de Street Food (Netflix, 2019)  
Diálogos Mundo Afora nº3Umas das grandes surpresas em minhas andanças pelo Vietnã foi a descoberta de Hoi An, localizada no centro do país. A pequena cidade foi um importante porto comercial entre os séculos 17 e 19 e é uma das mais bonitas e bem preservadas coloniais vietnamitas. Diria que ela tem ares de Paraty: pequena, sossegada e cheia de estrangeiros que chegaram para ficar, tamanho o encanto - a Ásia, para mim, aliás, tem sabor de VietnãPor Lélia Rezende, Mundo Afora Viagens.

Harmoniza bem com: Soul Kitchen, The Doors - que está na trilha sonora de Forest Gump e na playlist de Diálogos Comestíveis. laugh

yes E vale assistir a Street Food (2019), na Netflix! A série faz um apanhado sobre a comida de rua asiática e trata, num dos episódios, da riqueza das preparações vietnamitas. Confira o trailer clicando aqui! yes Atualizada em 9 de maio de 2019.

A culinária vietnamita impressiona pelo colorido, perfume e diversidade. A variedade deve-se a extensão do país e aos povos que já passaram por lá, ávidos por chamarem o território de seu: vide chineses, japoneses e franceses (Indochina).

Arroz é, literalmente, vida, por lá. A base da dieta local. É usado para quase tudo. Serve bem aos noodles, por isso vale provar o pho (uma sopa leve com macarrão de arroz e fatias bem finas de carne, nas versões mais simples). Também é usado para fazer pães, panquecas, bolachas e vinhos (os artesanais são os melhores). Enfim, o grão é consumido no café da manhã, no almoço, no jantar e na sobremesa. Além de consumidor inquestionável, o país é segundo maior produtor mundial, perdendo somente para a Tailândia. 

 

Noodles, Vietnã, pho
Além do arroz, outro ingrediente essencial, e presente em praticamente todos os pratos vietnamitas, é o molho de peixe fermentado. Na foto, o pho, refeição bastante comum no Vietnã. Fotos: Divulgação



Mas o que torna a culinária vietnamita tão perfumada? O frescor das ervas, pimentas e temperos em geral. Os mais utilizados são: o coentro, a menta, o capim limão, gengibre, a canela, o cardamono, o limão, a cebolinha, o nirá (lá é conhecido como he), além de carne de boi, de frango e de peixe, fatiada.

A melhor forma de entrar em contato com essa fusão de sabores é participar de uma aula de culinária, atividade comum entre os turistas. Há escolas espalhadas pela cidade que oferecem essa fantástica experiência. Caso da Green Bamboo Cooking School, bastante disputada. Há outras alternativas. Fuja, porém, de preços muito baixos: as boas escolas cobram, em média, US$ 40 por uma aula de quatro horas.

Visitar o mercado central de Hoi An é visita obrigatória para entender um pouco mais sobre os hábitos alimentares do vietnamita. Ele funciona diariamente e as frutas sazonais são uma atração à parte. Confesso que ficar frente a frente com pitaias gigantes foi sensacional! Lá funciona, também, um mercado de peixes. Além da venda de patos e galinhas prontos para o abate, verduras e temperos, há restaurantes ao redor - bom para quem gosta de cozinhar e bom para quem gosta de comer.

 

Mulher no mercado vietnamita

 

 

 

Não esqueça o guarda-chuva

Ir até Vietnã exige disposição do viajante e visto para brasileiros - a taxa custa cerca de US$ 50, saiba como requerer o seu no site do Itamaraty. Mas vale muito, muito a pena. Pense que um roteiro para o destino pode ser facilmente combinado com outro do sudeste asiático. Vietnã, Tailândia, Camboja, Laos. A primavera (de fevereiro a abril) e o outono (de agosto a outubro) são as melhores estações para visitar o país, pois não há o risco de fortes chuvas, comuns.

Não há voos diretos do Brasil até o sudeste asiático, mas diversas companhias operam essa região via Air Europa Airlines ou Emirates. Um voo saindo de Guarulhos para Danang (principal aeroporto da região), custa a partir de US$ 1.300, na média temporada.

 

UMAMI DIÁLOGOS COMESTÍVEIS

Vietnã, enquanto palavra, faz-me lembrar da poesia homônima da polonesa Wislawa Szymborska (1923–2012 - ela ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1996 e uma das pensatas de que mais gosto, quase um haicai, diz: - "Prefiro-me gostando das pessoas/ do que amando a humanidade").

A seguir, proponho uma espécie de "cânone", para vislumbrar o que pensei. Escolha seu tipo de texto:
 

"Mulher, como você se chama? - Não sei.
Quando você nasceu, de onde você vem? - Não sei.
Para que cavou uma toca na terra? - Não sei.
Desde quando está está aqui escondida? - Não sei.
Por que mordeu o meu dedo anelar? Não sei.
Não sabe que não vamos te fazer nenhum mal? - Não sei.
De que lado você está? - Não sei.
É a guerra, você tem que escolher. - Não sei.
Tua aldeia ainda existe? - Não sei.
Esses são teus filhos? - São."

Vietnã, da poetisa polonesa Wislawa Szymborska, Nobel de Literatura de 1996.

 

Poesia Vietnã, arte Diálogos Comestíveis

 

Ao contrário de Lélia, desconheço o país, embora sejam familiares a mim alguns pratos típicos agridoces e carregados em especiarias, portanto super aromáticos, como o thit kho to (à base de filé mignon de porco) e cha ca la vong (peixe marinado) e seus arrozes - o de jasmin foi hit, na minha cozinha, por anos a fio. Então só imagino (imagino) aquilo que se desenha no prato no contexto de um ex-cenário de guerra.

O tom de interrogatório da poesia de Szymborska, quase jornalístico, porque tem um quê de entrevista, me ceifa. Penso. Nas disputas. Nos deslocamentos tantos. Nos emaranhados de arrozes. Naquilo que pomos, agora, no prato. E ao lado do feijão. Na guerra e o pós-guerra... Também poetiso. O assombro perante o nada. Futuro. O anseio perante tudo. Silêncio.

Silêncio, exato. Se ladear Vietnã ao poderio da mulher, tal fiz; e reler a última frase da poesia de Wislaw e o texto de Lélia, rasgo um trilhão de certezas baseadas no senso comum - aquele  nascido em 4 de julho ou nas histórias de Bubba Gump que girava o mundo, mas acabou fazendo sempre a mesma nota: - ra-tá-tá-tá (se você riu de canto de boca foi porque entendeu, como eu, que precisa MESMO viajar para conhecer qualquer lugar).

Acabo de lembrar que Anthony Bourdain
também tem culpa em meu cartório de referências, poris é um dos grandes defensores da gastronomia vietnamita - dedicou um pedação de Em Busca do Prato Perfeito aos rangos de lá.

Aos fatos, pois. Mais de dois terços dos vietnamitas nasceram depois de 1975. O país só se abriu ao mundo após 1986. E o que seria do Vietnã sem o arroz? Ca-ma-rão? Gump, não zoa.

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Mas é. Parece que sim. O desenvolvimento econômico também é capaz de refazer o rol de comidas típicas. O Delta do rio Mekong vem se reconfigurando. "A tigela de arroz do Vietnã" cede lugar ao lucrativo camarão desde os anos 1990. Razão? Mudanças climáticas levaram águas salgadas para lá.

Sabe aquela prosa de pensar-se em "que paisagem desejamos ver no futuro", da qual sempre falamos? Pois é. Ela passa a mudar quando nos habituamos em achar que ideias incríveis servem fora de contexto (e, mesmo sem planejamento, são levadas adiante). Leia mais clicando aqui.

Ao mesmo tempo, os vietnamitas, bem como outros povos asiáticos - vide chineses e japoneses - comem invertebrados em qualquer ponto do desenvolvimento, sem nojo. Há granjas de grilos para consumo humano no Laos, Vietnã e Tailândia, aliás, tamanho o apreço pelo petisco. Quer saber mais sobre o consumo de invertebrados no mundo? É chef de cozinha? Sério?
LEIA o artigo "Insetos como alternativa alimentar: artigo de revisão", das pesquisadoras Edenilze Teles Romeiro, Israella Dias de Oliveira, Ester Fernandes Carvalho, publicado na Revista Contextos da Alimentação, em 2015. POR FAVOR. Baita pesquisa bacana, baita conteúdo. Clique aqui! Sobretudo quando se pensa em Desenvolvimento Sustentável - comer insetos não pode - e não permitiremos que - vire "modinha". #TMJ?  

 

Montanhas e arroz, no Vietnã

 

Em tempo1: Ho Chi Minh, antiga Saigon, é mais conhecida que Hanoi, capital do Vietnã. Tal São Paulo para o Brasil - cuja capital, Brasília (DF), vive no alvo dos mundos pelos atropelos dos rumos políticos. Se quiser respirar a história do sudeste asiático, rume para Ho Chi Minh.

Em tempo3: A maior caverna do mundo, a Hang Son Doong, descoberta em 2009, integra uma galeria composta por 150 cavernas, no Parque Nacional Phong Nha-Ke Bang (a 500 quilômetros de Hanoi). O acesso é restrito, é preciso guias, preparo físico. Mas, se você tiver disposição, terá a vista que o fotógrafo britânico Carsten Peter, um dos primeiros a registrar imagens do local, em 2011, teve. Quer ver do que estou falando? Clique aqui.

Em tempo2: Em São Paulo, capital, é possível conhecer algumas das ene vertentes gastronômicas vietnamitas em alguns restaurantes no Centro. Caso do boteco Bia Hoi ("cerveja" e "gás", em vietnamita), ao qual devo visita, especialmente. heart O interesse dobrou depois de saber que as queridas sommelières Daniela Bravin e Cassia Campos (Sede 261yes já aprontaram algumas boas harmonizações por lá. Quer empreender? Aprenda. O casal Danielle Borges e Fernando Brito servia jantares em casa, até outro dia. Hoje, faturam legal no pub. Tá bom? 

E aí? Vamos ao Vietnã ou a Sampa mesmo? Temos #MotivosParaDialogar! 
 




 

 

 

 

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