Distopia e branding no Barbieverso

Distópicas e utópicas ao mesmo tempo, Barbies são faces de umas mesmas moedas: mulheres. Valiosas às suas maneiras. Contraditórias e paradoxais, surgem em Barbie (2023), o filme, como uma representação do intangível. E, também, do real de todas nós. Caricatas, convenhamos. Mas mulheres.

Nem vou citar o discurso mais épico do filme assim, já de cara. Spoiler. Sei que ele foi gravado umas 50 vezes antes de virar cena. E que resume todo o propósito da Mattel: rir de si mesma e ajustar seu tom a fim de convencer quem tem 20, 30 ou 40 anos (e tem filhos) de que brincar com uma boneca - uma boneca que pode ser o que quem brinca quiser - ainda vale à pena. Faturar bilhões com sonhos novos de meninas padrão.

 

Barbieverso: imagens feitas com uso de inteligência artificial no Canva
Barbieverso: imagens feitas com uso de inteligência artificial no Canva

 

 

As personagens do filme são o que são: personas hábeis em agradar à audiência teen, em maioria; e fáceis de contextualizar. Simpáticas, às vezes empáticas, dão match com 99,9% da audiência. 

Sabe o Metaverso tão falado e zicado? A Barbieland e o conceito Kenough do mundo do Ken ilustram os universos utópicos de um feminismo fálico e de um machismo em profunda crise existencial. Tem-se um Barbiverso na telona.

 

 

O Barbieverso do longa, aquele onde a perfeita rotina beira a perfeita ruína quando tudo se repete - e a morte é só uma hipótese -, como no Dia da Marmota de Feitiço do Tempo (1993); ou em The Truman Show (1998), é uma representação das novas realidades ampliadas.

Barbies são avatares de uma sociedade em desconstrução/reconstrução. Em que há conteúdos líquidos e sexualidade fluida. Em que o tenebroso inverno dos sentimentos mais humanos precisa sair da toca e aparecer como lágrima.

É um "filme do ano", para todas as idades e gêneros, com ou sem genitais evidentes. É um filme datado, mas útil. Esteticamente interessante. Bom para assistir e discutir em família. 

E logo eu, que sempre me apaziguei com jogos estratégia - jamais com bonecas - fui ao cinema de conjunto cinza e camisa listrada de preto e branco pra ver uma vida representada em cor de rosa. E olha que vi senhoras de 60 anos pinks, dos pés à cabeça, vagando pelo estacionamento do shopping atrás de um Corvette... Barbiverso total.

- A Barbie original, Érica, usava um maiô listrado em preto e branco, cores do seu maiô preferido, diga-se.

Sabia não. Barbie Estranha, eu? Claro. A estratégica. ;)

 

 

Branding no Barbiverso

De uma das últimas poltronas de um cinema com som de última geração, consegui analisar as ativações de diversas marcas - entre elas, Chevrolet e Channel. Haja planejamento para convencer o mundo, globalmente, dessa onda Barbiecore.

Até para os pés chatos da boneca que saiu da caixa havia sugestão de consumo imediata: a Birkenstock está para a pílula vermelha de Matrix. Assim como Barbie está para o fogo de 2001, Uma Odisséia no Espaço (1968). Cena que aplaudi, discretamente. 

Pois Kubrick é honrado de forma cômica (e, pra mim, genial) logo na abertura do filme, dirigido pela talentosa Greta Gerwig, roteirista e atriz de Francis Ha (2012), que amei. E citado, também, por meio de O Iluminado (1980), Glória (America Ferrera) conhece Barbie (Margot Robbie). 

Não faltam referências fílmicas em Barbie, aliás. Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), por exemplo. Alguém associou os cavalos invisíveis dos Ken aos do clássico?

O longa-metragem do Barbieverso estreia em contexto de greve de atores de Hollywood e discussões sobre Inteligências Artificiais e ética e  Metaverso. Deslancha bem por 40 minutos. Depois, patina (literal e filmicamente). Tem-se um prenúncio de que um musical virá por aí. 

Como um todo, acerta em dois pontos: 1) é um case de branding e marketing globais bem-feitos; 2) trata do feminismo e do machismo na mesma proporção.

Erra, grotescamente, ao descartar qualquer fresta de discussão sobre sustentabilidade e afins - utopicamente, Barbie desenha um mundo perfeito em que visitar a ginecologista é muito mais relevante - quiçá à perpetuação da espécie Bárbara.

Vamos falar de branding. A Barbie é da Mattel e o filme da Warner Bros: cobranding global em prol de uma boneca que rompeu paradigmas em 1959. O título gerou infinitas collabs, sendo Picadilly, AirBnB e Burger King cases. É buzz marketing que não acaba mais e todo o mundo querendo surfar nessa onda rosa. 

Aqui, podemos falar da aplicabilidade de um transmedia storytelling pra valer: há dois anos vimos sendo bombardeados por referências ao universo da Mattel sem nos darmos conta até que fomos "levados a" consumir Barbie e seus derivados

E por que a marca é tão fod@? Porque nos ensina sobre empreendedorismo, consistência, propósito, storydoing e alcance. Tudo de um jeito simples, transversal e global. Barbie nos atravessa. Forma comunidades e cria parcerias improváveis - inova pela ação.

A propósito, jamais me pus numa caixa. Que conexão! Desconheço a memória de infância que brincou de boneca como faziam minhas primas, do alvo altar de suas madeixas loiras. No máximo eu ganhava uma guitarra imaginaria de Jem e as Hologramas para viver uma das desajustadas da banda rival. Obviamente, era eu uma desajustada naquela brincadeira.

Que minha loucura seja perdoada. Boa sessão.

 

 

 

 

 

 

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