Sobre o “gosto” (que sempre se discute)

Estamos em fevereiro. “Mosquitos, calor e (quase) Carnaval”. Seria assim, tranquilo como na fictícia frase anterior, se a pandemia houvesse... tchhhhh-pum! Desfalecido. Desmaiado. Desaparecido. E se autodeclarado maior de idade e vacinada. O que desapareceu, no entanto, foi a esperança – sobretudo do setor gastronômico. Ainda mais diante da, digamos, dificultosa gestão pública. E da complexa lógica de convívio realmente responsável. Aquela que nos fez rever, desde março de 2020, os hábitos do comer privado em lugares públicos.

"Dark kitchens", "to go" e "delivery": verbetes de 2020 (Fotos: Diálogos Comestiveis, banco de imagens)

 

Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da Região Metropolitana de Campinas (Abrasel RMC) divulgados em janeiro/2021, “somente na RMC o segmento contabilizou o encerramento das atividades de 4,2 mil estabelecimentos durante a pandemia e cerca de 15 mil demissões”. No Brasil, a entidade “contabiliza 300 mil negócios fechados, dos quais 90 mil em todo o Estado de São Paulo, e 1,5 milhão de empregos perdidos”. Com o aumento das restrições, a entidade calcula que de 20% a 30% dos bares e restaurantes iriam colapsar em caso de outro lockdown. Há tremor a chacoalhar qualquer chão que ainda pareça firme. O meu balança. Sigo em suspensão.

Pois, no Pará, o governador Helder Barbalho (MDB), decretou lockdown para a região do Baixo Amazonas e Calha Norte em função da identificação de dois casos da variante do Amazonas do novo coronavírus. Os “ventos do Norte” sopram sinais de alerta para o Sudeste. Em São Paulo, há manifestações em cadeia, armadas para a Paulista e vãos do Masp contra as restrições implementadas pela revisão de fases do Plano São Paulo endossadas, por exemplo, pelo Movimento Gastronomia Viva. A gastronomia “respira por aparelhos”. Defende a vacina. Atrasa impostos, demite e se desespera (perdendo a razão) ao ver o mal feito, o mau exemplo. Vai à luta. De(s)máscara?

"Não nos confundam" e "quem segue os protocolos não espalha Covid" são argumentos de bares e restaurantes à reabertura

 

As perguntas que o chef Marcos Livi formula em post recente ressoam cá dentro. A seguir, um trecho.

- “Temos pautas simples! E viáveis. Precisamos trabalhar. Precisamos de ajuda. Precisamos pagar Menos impostos. E não mais impostos. O que o setor de alimentação fora do lar, restaurantes bares e eventos fez de errado? Por que nos que seguimos todas as regras somos os únicos proibidos de abrir? Por que só nos? As festas clandestinas, os eventos clandestinos, as eleições, ano novo, as torcidas de futebol! Tudo pode! Então vale das autoridades! “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Meu avô falava sempre que no comércio, “não falamos de religião, política ou futebol” todos são importantes, mas porque nós somos os vilões junto a imprensa! Por que São Paulo é o único estado da federação fechado neste momento?”

Tenho ponderações a fazer, mas prefiro ouvir, observar, antes de dizer. O que você que me lê me diz sobre a situação do setor gastronômico no Brasil?

Estava às voltas com o planejamento para 2021, com a ideação, com a execução. E alguém ainda se bota a traçar planos longos, em sã consciência? Aconselho, por ora, os que guiam os três ou seis meses em que a névoa ainda paira adiante do nariz, mas vê-se alguma coisa. E penso no gosto. Nas escolhas. Todo comer somos nós quem desenhamos e, neste momento de segunda (e avassaladora) onda de Covid-19, as escolhas podem ainda mais.

“No atravessamento de cultura e natureza, do cru ao cozido, tem-se, no gosto, a experiência. Nela cabem o mero prazer estético, a arte, a indiferença... O comer com os olhos da alta gastronomia e do bom gosto. O comer trivial, temperado de afeto. Escolhas.” (NOGUEIRA, 2020).

Quais são as suas escolhas? Quais os nossos #MotivosParaDialogar? Me escreve.  Érica Araium.

 

 

 

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