Como a comida te conecta com a fronteira que te separa de alguém? Leia antes de participar: vale um prêmio e tanto! 
Quando criança, queria inventar navios para singrar os oceanos inundados por saudade. E ancorar no peito de um querido que me desse sopa. Uma sopa quentinha, cheirosa e com sabor de carinho.
Especialmente inverno brasileiro, o vermelho beterraba concorria com o branco-azedinho da coalhada caseira, no mesmo território do meu comer. E lá vinha o verde ranzinza do dill (endro, endro) para equilibrar os contrastes e dar um "upa" de alegria ao tom terroso que se esparramava pela língua, invadia o cérebro e, por fim, aveludava o céu da boca. Era um jeito de eu matar a saudade da Letônia que ainda não conheci, sempre amei. Dos avós que me deram o Araium de presente. E se foram muito cedo para o meu parâmetro de querer bem.
A oferta de pai e mãe vinha sempre acompanhada de sorriso e afago. De um braço comprido que se agigantava até o meu rosto. Alegre, botava, então, o prato de lado pra esquentar o coração ao fitar quem me ama de longe, sem que percebesse. Ralhava comigo se deixasse a comida esfriar. Pudera.
Num desanuviar, o vapor se acomodava tal lágrima sobre a mesa de centro da sala, onde dividia espaço com um punhado de cadernos de nota, lápis de colorir e de escrever. Passei a infância desenhando o comestível e escrevendo com texturas e alturas, doçuras, pungências e urgências de adeus. O tempo voava, esfumaçado. No rádio, sintonizado ora no dial da notícia, ora dos clássicos, sempre havia uma voz a contar, num dialeto compreensível de notas musicais, da beleza dos reencontros.
Tilintante, queria capitanear embarcações e singrar pelas marés inundadas de saudade. Junto à correnteza, levar sopa e soprar música no cangote da solidão. Aplacar a(s) fome(s). Arrumar #MotivosParaDialogar.
Na maturidade, a sopa é outra. Da borda do prato, vê-se um terço sempre à margem. Talos e ramas e aparas nem dão pra caldo na conta rasa dos adultos sem consciência. Mal cozinham, é verdade. O tempo não sobra, vai-se esfumaçado, apressado, desconectado do que importa. Por causa do zelo, da sustentabilidade que povoa os discursos, dos debates úteis sobre como minimizar-se o desperdício e por todos os diálogos comestíveis que vivo muito a fim de tecer desde 2015, criei um meme.
Um meme para dialogar. Um meme para atravessar a fronteira entre o que sobra e o que falta. Entre o desembalar e o respeitar o que, naturalmente, não se embala. Para rever a maneira como podemos cozinhar o que temos em casa. Para revisitar o território dos insumos e honrar as mãos e os olhos e os joelhos dos que teimaram em produzi-los. Para pensar sobre cada ato que comer significa. Para ressignificar o comer.
DESAFIO FOODPASS
Como a comida te conecta com a fronteira que te separa de alguém? A Foodpass convidou seus parceiros a agirem. Criou o movimento Cozinha sem Fronteiras para mostrar como "a comida pode romper barreiras, sejam elas físicas, sociais ou culturais". Pois está valendo o desafio. O #MemeParaDialogar de Diálogos Comestíveis. Ele demora 20 minutos para ficar pronto, mas seus efeitos duram para sempre, espero.
Nesta minha versão, fiz sopa com o que tinha na despensa, seguindo a regra do jogo que criei: usar uma porção de carboidrato (pães viraram torrada, acompanhamento), um fresco (beterrabas) e uma proteína (iogurte). A postagem veio embalada por desafio!
Faça você também! Convide mais pessoas para fazer o mesmo. Diálogos Comestíveis vai escolher o melhor post criado para o #MemeParaDialogar entre os dias 1º e 5 de setembro. Às 17h30 do dia 5/9/2019, anunciaremos, pelo stories do Instagram de Diálogos Comestíveis, quem ganhou uma vaga para o workshop #DeComerComOsOlhos, dedicado ao design gastronômico e que o chef Juliano Albano e eu vamos ministrar no próximo dia 7 de setembro, na Artesania Ateliê Gastronômico, em Campinas/SP.
Quer fazer o #MemeParaDialogar? Para já! Confira as regras aqui e participe! O que a gente quer é que você vá para a cozinha e prepare uma refeição com o que tem disponível em casa. Que pondere sobre combinações razoáveis, proporções e utensílios/ gadgets. Que entenda o que significa desperdício e considere bastante inteligente decidir o que comprar com ajuda das informações disponíveis. Que pondere sobre os não-ditos e passe a demandar o que falta. Que entenda as razões pelos quais a comida (invisível) não aparece no prato de quase um bilhão de famintos num contexto em que há excesso de produção. Desde 2010, procuramos enxergar os contornos e os gostos e as cores e os gestos do comer do futuro. Por isso, hoje, propomos um jogo de imitação para saber mais sobre a sua relação com o alimento. Vamos cozinhar?
Fone de ouvido e dê o play para jogar! 
IMPORTANTE! Ao final do processo, faça um post para o Instagram explicando a sua receita de hoje e, se quiser, detalhe as escolhas. Não precisa ser textão. Marque as hashtags #MemeParaDialogar, #MotivosParaDialogar #DialogosComestiveis no post, por favor. Também seria legal convocar outras duas ou três pessoas para fazerem o mesmo que você fez. Sabe por que? Cozinhar é semear amanhãs. Nos vemos em breve. Até. Érica Araium, Diálogos Comestíveis.
CRÉDITOS:
TEXTO, ROTEIRO ORIGINAL, MONTAGEM, EDIÇÃO E VOZ: Érica Araium. Saiba mais em: www.dialogoscomestiveis.com.br
FOTOGRAFIA: Henrique Grandi para Diálogos Comestíveis.
MÚSICA: Backed Vibes Clean, do álbum Jazz Sampler, de Kevin MacLeod (Creative Commons Attribution License).
LINK SECRETO para o jogo: opa!
DOWLOAD DISPONÍVEL DO MEME PARA DIALOGAR CLICANDO AQUI.
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