Insights da 2ª Feira da Sustentabilidade de Piracicaba

Está na hora de regar os insights da II Feira da Sustentabilidade - Compartilhando Novas Leituras. Realizado em meados de abril, na Casa do Marquês, em Piracicaba, o evento, colaborativo e gratuito, teve aquela aura de vida produtiva em formato beta, sabe como é? O que o assunto tem a ver com gastronomia? Tudo. Post checado em 02 de março de 2021.

Tanto as palestras quanto nos espaços de expositores, o que mais se viu foi a sede de haver amanhã. Daí haver tanta inspiração flainando sobre a região. A organização, desta vez, foi da Casa do Marquês (espaço mega legal para eventos, no bairro Monte Alegre), Casa da Floresta Assessoria Ambiental e Instituto Casa da Floresta. 

Bom. Fato é que,  para espanto dos incrédulos, é preciso dizer que há muitas empresas bacanas atuando nas redondezas sob a perspectiva mais nobre do triple bottom line (o legado às próximas gerações sem agressão ao meio-ambiente). E, para mais espanto ainda, bacana notar que essas estão se dando as mãos.

Ao longo de três dias de evento, participantes de mais de 27 cidades prestigiaram ao menos um dos 29 palestrantes. Houve cerca de 50 iniciativas dissipadas por meio de minicursos, mesas-redondas e atividades culturais. A Exposição Científica e Comunitária reuniu 12 trabalhos de cinco municípios do Estado de São Paulo e um de Minas Gerais; envolveu cinco grandes universidades. Ao todo, cerca de 480 estudantes aprenderam um bocado mais sobre sustentabilidade. Foi bacana de ver.

Em cada eixo temático (municípios sustentáveis, tecnologias sociais, sustentabilidade empresarial e construções sustentáveis) buscou-se refletir e trazer inovações para o uso  responsável da água, para a gestão da energia e de resíduos, para a pegada ecológica, a responsabilidade socioambiental, a qualidade de vida, de alimentação, de moradia, de mobilidade, de produção e de consumo responsável. “Desta forma, o evento irá mapear e apresentar algumas das melhores práticas regionais”, afirmou Mônica Brito, coordenadora geral da feira.

Casa do Marquês, sede da II Feira de Sutentabilidade

Casa do Marquês, sede da II Feira da Sutentabilidade. Fotos: Érica Araium

 

DO IT YOURSELF


Os organizadores da Feira foram muito bacanas ao propor a feitura da área de convivência da feira aos expositores e às instituições de ensino parceiros. Assim, o banheiro seco, o sistema de tratamento de água cinza (aquela que, normalmente sai das torneiras do banheiro e da cozinha e vai embora, direto pelo ralo), o mobiliário urbano e os jardins sustentáveis derivaram de uma rede de iniciativas verdes. 

Valéria Freixêdas, produtora executiva do evento, defende que a Exposição Científica e Comunitária “adiciona uma força catalisadora no sentido de valorizar e reconhecer as transformações positivas”. Quantas boas ideias não haviam ficado guardadas nas instituições até dias atrás?  Confira galeria de imagens no final desta reportagem.

 

DE COMO UNIR COMUNICAÇÃO E sustentabilidade


Diálogos Comestíveis participou como expositor, ao lado da Monte Cogumelos (Valinhos/SP), pelo viés da gastronomia, da saudabilidade e das soluções viáveis à manutenção de uma produção orgânica sustentável de fato. Mais de 400 pessoas foram impactadas diretamente no estande montado no evento. Quem passou por lá, pode degustar um produto bom, limpo e justo (tríade do Slow Food) – cogumelos ostra e shimeji foram usados num prato vegano preparado por uma chef de cozinha (Patrícia Diniz). Um barato. A ponto de a iniciativa ser registrada pela Agência Social de Notícias

E a ponto de o broto de alfafa disponível na tenda do vizinho, a Rede Guandu (espécie de ponte entre os agricultores da região e Piracicaba e os consumidores finais), virar coadjuvante importante no prato que houvemos desenvolvido: espaguete de pupunha com falso ragu de cogumelos ostra e shimeji, brotos de alfafa frescos e semente defumada e curada de abóbora.

Prato criado pela chef Patrícia Diniz, em parceria com Diálogos Comestíveis, para a Monte Cogumelos

Prato criado pela chef Patrícia Diniz, em parceria com Diálogos Comestíveis, para a Monte Cogumelos

 

Pronto. Também estava por lá a novíssima Ecoamos, uma empresa cujo projeto estava sendo gestado há pelos menos dois anos e que se propõe a facilitar a vida de quem elegeu a sustentabilidade como estilo de vida e quer facilidade na hora de encontrar fornecedores que pensem da mesma maneira. É um “buscador ecofriendly”, em síntese. Ideia simples e cheia de bossa da empresária Luna Filartiga. A gente já fez o cadastro por lá, estamos em fase de testes. Mas dá para dizer que o conceito, claro, é bem legal.

 

PRODUTOS E SOLUÇÕES


O intertítulo não favorece as tantas gentes boas que conhecemos. Mas, basta lembrar que, para que haja produto ou serviço, vai-se lá um tanto de tutano, sola de sapato e arregaçar de mangas. Esforços que, em muitos casos, só serão reconhecidos e devidamente remunerados anos adiante.

Marcelo Albergaria, da EcoSimple (Americana/SP), por exemplo, choca o desavisado inconsciente acerca de seu consumo a ponderar o que segue: - “Para que se produza um metro de tecido, cerca de 10 mil litros de água são empregados no processo. No caso da EcoSimple, o uso d’água é mínimo”, avisa. O que ele faz? Produz tecidos sustentáveis a partir de sobras de tecido de grandes marcas (caso da Malwee e afins) e de garrafas PET (reutiliza matéria-prima, portanto). “As aparas são separadas por cor, trituradas e voltam a ser tecido de algodão, já colorido. A ele agregamos fibras de garrafas PET e fazemos um fio na cor que vai ser feito o tecido final. O processo é totalmente limpo”, defende.

O material resultante pode ser empregado na confecção de roupas e sapatos, mobiliário urbano, objetos de decoração etc. O estilista Alexandre Herchcovich, aliás firmou, em 2015, parceria com a marca (as peças “ecologicamente corretas” foram apresentadas na SPFW), que também atende à Gooc, que faz bolsas e acessórios com o tecido 100% sustentável. Claudio Rocha e Marisa Ferragutt fundaram a empresa em 1994. Em 2010, uma nova etapa.

Marcelo Albergaria, da EcoSimple

Marcelo Albergaria, da EcoSimple: expertise na produção de tecidos sustentáveis com sobras de tecido e plástico

“Começamos no mercado há seis anos, depois de outros quatro anos intensos de pesquisa. Outro case de sucesso foi a Coca-Cola. A marca nos procurou para que integrássemos uma ação no estádio do Maracanã, para a Copa do Mundo. Em parceria com a Giroflex, fizemos os tecidos dos 7,5 mil assentos da área VIP. Para forrar cada um deles, 18 garrafas PET foram tiradas do ambiente”, explica.

Na área gastronômica, aos poucos, cresce a demanda por toalhas, jogos americanos, guardanapos, aventais feitos com o tecido sustentável. “Acho que seria possível a utilização no fabrico de aventais e dólmãs, inclusive. Já temos tecidos em lona, em sarja, em juta. Queremos trabalhar com linho e acrílico, que seria um tecido ideal para área externa e poderia ser usado em barcos, por exemplo”, contextualiza. O investimento em pesquisa e desenvolvimento tem sido proporcional ao desejo de crescer e, em breve, a EcoSimple deve revelar novidades.

Em Campinas, uma das marcas que trabalha em parceria com a EcoSimple é o Empório Viver, braço de negócios do Sítio Terra Mãe (Joaquim Egidio). Na loja, que funciona no bairro Cambuí, há bolsas e mochilas térmicas – bem bacanas para quem quer uma bag funcional para ir ao mercado ou à feira.

Em São Paulo, quem desenvolve calçados, roupas e acessórios com o tecido sustentável é a marca Kerai, dos estilistas Elizabeth Amante e Dino Martini. “Pensando no que disse sobre o nicho gastronômico, veja só. Nós só não fizemos dólmãs ainda por conta da crise financeira. Tem alguns chefs bem legais que atuam na área vegana e a ideia é que façamos um cobranding com eles”, revela Elizabeth. “Nossa produção é 100% sustentável. O projeto todo começou por uma decisão de mudança de estilo de vida. Tanto que estamos nos mudando de São Paulo para Minas Gerais”, explica. As peças são únicas, em maioria. “Essa coisa de alta produção não faz sentido. Sou eu quem corto as bolsas, por exemplo. Não abro a mão do processo criativo”, entrega.

Elizabeth Amante e Dino Martini, estilistas da Kerai

A marca Kerai, dos estilistas Elizabeth Amante e Dino Martini, desenvolve calçados, roupas e acessórios com matéria-prima 100% sustentável

 

LIXO, ÁGUA E ENERGIA REUTILIZÁVEIS


A empresa holandesa Swillgasser (parceria com a Huisman Innovations) já atua no Brasil há dois anos e a expertise é justamente transformar resíduos orgânicos em biogás – em energia, portanto. Para que valha à pena o investimento, que pode passar de R$ 1 milhão, o cliente deve levar em conta o volume de lixo que produz, algo em torno de uma tonelada por semana. Estão no foco da empresa, então, “clientes grandes”, que produzem alto volume de resíduos orgânicos, como hospitais, hotéis, cozinhas industriais, centrais de distribuição de alimentos e, claro, grandes restaurantes.

Um técnico vem ao Brasil para fazer a instalação e configuração do biodigestor (o container tem cerca de 20m²) e, também, o treinamento. A energia elétrica gerada pode ser vendida para rede ou reutilizada no próprio estabelecimento. Minimiza-se, assim, os gastos com transporte e processamento, não há emissão de odores desagradáveis, o tempo de processamento é rápido, entre outras vantagens. O modelo é interessante, vê-se, mas sofre com a burocracia para implementação no mercado brazuca. Serve de inspiração a modelos assemelhados? Sem dúvida. 

E o que dizer do aproveitamento da energia solar? A lógica do alto investimento versus alto retorno em longo prazo vale às placas fotovoltáicas. “A economia de energia elétrica pode chegar a 95%, o que é bom para o meio ambiente. Para quem tem um grande restaurante, talvez seja uma excelente opção. O retorno sobre o investimento leva cerca de quatro anos. Há possibilidade, por exemplo, de aproveitar-se as placas para cobrir-se garagens construídas com material sustentável (a partir de plástico e pneus reciclados, por exemplo) e, assim, abastecer-se tanto os carros movidos a energia elétrica quanto o próprio imóvel”, ilustra Daniel Pancieira, da Atual Automação e Elétrica, de Piracicaba/SP. A Empresa trabalha em parceria com a ES Energy, de Sertãozinho/SP.

 

Para melhorar

A organização, briosa e firmesa,  puxa... deslizou bocadinho em alguns aspectos de branding e relacionamento. Numa próxima edição, há que se rever o layout e a distribuição dos participantes para que palestras e rodadas de negócios sejam mais efetivas. Uma pena também o fato de a adesão do público ter sido baixa (aquém da expectativa) e as opções gastronômicas... poucas. No encerramento teve até ação do Disco Xepa - cozinheiros que atuaram na feira e parceiros da região criaram pratos incríveis com alimentos que iriam para o lixo.

 

Banheiro seco
Estação de tratamento de água cinza
Mobiliário sustentável
Integração entre expositores e público
Calçados feitos com matéria-prima sustentável
Buscador eco friendly
Jogos de xadrez artesanais
Rede de sustentabilidade
Hora de acordar
Reflexão à sombra
Grupos de trabalho
Energia para o amanhã
 

 

 

 

 

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